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Artigo de Opinião

18/09/2024 08:00

A qualidade dos espaços públicos é fundamental para a vitalidade das cidades, influenciando diretamente a qualidade de vida e a coesão social. Em Portugal, o bom desenho desses espaços tem sido apontado como uma necessidade urgente, pois permite não só a circulação eficiente de pessoas, mas também promove encontros, permanência e interações sociais – elementos essenciais para a dinâmica urbana. O Funchal, com a sua circunstância cultural e patrimonial, apresenta uma série de oportunidades e desafios em termos de preservação e revitalização dos seus espaços públicos.

O uso consciente do “desenho de chão”, ou seja, a estruturação de pavimentos e espaços transcende uma necessidade estética, é também uma necessidade funcional permitindo interligar a verticalidade dos edifícios onde vivemos com a horizontalidade do espaço por onde transitamos. A tradição local mostra-nos como a calçada madeirense e as cantarias de transição para as paredes exemplificavam esse desenho de chão. No entanto, essa tradição tem sido gradualmente suprimida por decisões menos cuidadosas e, em muitos casos, por intervenções que não respeitam o contexto cultural ou histórico.

A escassez de espaços públicos, bem desenhados, na região, é particularmente notável, considerando a riqueza natural e paisagística da Madeira. Praças e jardins que, no passado, surgiram de intervenções arrojadas – muitas vezes através da demolição de edifícios antigos – hoje carecem de um planeamento mais atento. Embora a criação de infraestrutura, como estacionamentos, possa parecer uma solução prática para a crescente pressão urbana, há que se considerar o impacto de longo prazo na identidade e na qualidade do espaço público. A sua construção pode resultar num custo demasiado alto para a qualidade e o uso social dos espaços, e é vital ponderar o efeito que essas mudanças podem ter no caráter urbano da cidade.

O verdadeiro valor de um espaço público não se limita a um desenho estético, mas reside na sua capacidade de articular o domínio público e privado de maneira fluida. A transição entre estes dois universos deve ser harmoniosa, garantindo que a cidade funcione como um organismo integrado, promovendo a apropriação coletiva e a coesão social.

Na Madeira, a revitalização desses espaços, com foco num desenho matérico e no respeito pela tradição, pode ser uma forma eficaz de transformar a cidade sem subvertê-la. A combinação de elementos tradicionais, como as calçadas históricas, com intervenções contemporâneas, pode criar uma atmosfera urbana vibrante, que responda às necessidades atuais da comunidade sem perder de vista a sua herança cultural.

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