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Artigo de Opinião

BOM DIA ALEGRIA!

18/03/2024 07:30

Recentemente, vivi o que mais me atormentava desde a infância: a perda da minha mãe. Foi uma partida repentina, mas felizmente, não ficou nada por dizer nem por fazer. Ela era a minha rainha, e agora, resta-nos continuar os seus ensinamentos de amor e respeito pelos outros, cuidando de nós e dos que cá ficaram. Tem sido um olho nas burocracias necessárias e outro no pai. As perguntas que os meus irmãos e eu mais nos fazemos são: como está o pai? Onde está o pai?

Nestes dias, as creches e as escolas de primeiro ciclo andam numa azáfama a preparar surpresas para o Dia do Pai. Escrevem-se frases bonitas sobre os pais, relembrando porque são os nossos heróis e o que mais gostamos neles. No entanto, à medida que crescemos, deixamo-nos disso. Com sorte, o pai recebe um beijinho e um “parabéns, pai!”. Talvez lhe ofereçamos algo.

Na fase adulta, a dificuldade em verbalizar o que realmente queremos dizer aumenta. Parece que as palavras ficam presas entre o coração e a garganta. Por isso, aproveito estes caracteres para libertá-las. Aqui sei que o meu pai lê. Espero que este gesto inspire mais alguém a expressar o que de bom guardamos dos nossos pais. Por mais defeitos que tenham, fizeram o que sabiam com o que tinham, mesmo que para alguns isso tenha sido insuficiente.

O meu pai é um homem lindo. Fica ainda mais bonito quando veste “a roupa de ir à missa”. É um portista ferrenho, embora eu ache que ele gosta mais quando o Benfica perde.

Para um pai dos anos 80, ele era fora de série. Em casa, graças à minha mãe, não havia tarefas exclusivas de homem ou mulher. O que precisava ser feito, fazia-se. O meu pai brincou muito connosco, ensinou-nos a andar de bicicleta e incentivou-nos a correr riscos, a sermos “desembaraçados”. Agora, é um avô atencioso, traquinas e protetor. O meu pai é o meu número de emergência. Para assuntos do dia-a-dia, tem pavio curto e irrita-se com facilidade. Em momentos de aflição, é racional e faz o que tem de ser feito.

Ele dá uns toques na viola e na “gaita de beiços”. Aprendeu a tocar acordeão sozinho já em adulto (sim, na altura foi horrível. Desculpe, pai). Adora música. De preferência, ouvi-la alto e bom som. Quando se identifica com uma letra, emociona-se e mostra-nos a canção.

Ao achar graça a uma piada, conta-a vezes sem conta e ri como se fosse a primeira vez. Não está para agradar os outros e tem sempre resposta na ponta da língua.

Para ele, os filhos vão precisar sempre de chamadas de atenção, seja onde for! Por isso, ainda ouvimos: “ai, ai, aaaai!”. Dilemas da vida partilho-os com ele. Alerta-nos para nos fazermos respeitar. Tem de pensar um pouco para dizer as nossas datas de aniversário. Costuma acertar no mês. Isso pouco importa, os olhos dele brilham quando conta como foi o dia em que nascemos. Não sabia muito em que ano andávamos na escola ou que curso estávamos a tirar, mas sabe sempre quando estamos mal. Por mais que tentemos esconder, ele sai-se com: “Tu não tás bem. O que é que se passa?”

Faz umas semilhas com bacalhau e uns chicharros fritos do melhor! Não janta à mesa connosco. É o último a comer e não se importa se fica com pouca comida, desde que estejamos satisfeitos. Todos os dias precisa do seu tempo para descomprimir. “É o meu sistema”, diz ele.

Na sua música “Daughters” (filhas), John Mayer tem estes versos: “Pais, sejam bons com as vossas filhas. Elas irão amar como vocês amam.” E nisso, o nosso pai esteve muito bem.

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