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Artigo de Opinião

31/08/2024 08:00

No interior do meu partido (o PSD, para os mais distraídos) nunca foi entusiasmada a eleição de alguém doutra força política para o mais alto cargo da Autonomia. Que, para os ainda mais distraídos, trata-se da presidência da Assembleia Legislativa da Madeira. Devemos, no entanto, ser justos. Não obstante o processo como José Manuel Rodrigues chegou em 2019 ao lugar, numa negociação ( os cínicos chamarão “chantagem política”) à margem do seu partido, a que associou uma infelicíssima analogia dos “ 1000 escudos sem 1 escudo não são 1000 escudos”, que lhe ficará colada, a presidência do histórico centrista tem-se pautado pela serenidade, equidade, pela forma hábil e coerente com que delega nos vice-presidentes e, talvez mais importante, uma maior abertura da casa maior da Autonomia à sociedade, com particular enfoque nas áreas da cultural e social. Na verdade, dando continuidade ao que já conseguira Tranquada Gomes, o primeiro a expurgar a imagem de “casa de loucos”. Não é surpresa a competência de “ Zé Manel” no lugar. Está há muitos anos na política, sabe (quase) tudo sobre o “metier”.

Por isso, também é sem surpresa que concretize habilmente o equilíbrio fino de líder partidário com um entendimento parlamentar com o partido do governo. Um acordo deste género, ou mesmo uma coligação de governo, não implica que o parceiro júnior diga “ámen” a tudo. Não é bom para a governação, e é péssimo para os partidos em apreço. Passa a ideia de fusão, e que os partidos desprezam princípios basilares por razões menos nobres. Terá sido esse o principal erro de Rui Barreto, que revelou ser um governante competente, inteligente, mas que sucumbiu a um estilo muito “obediente”, levando à confundibilidade entre os dois partidos de centro-direita e direita democrática. Por essa razão, havia há um ano sondagens que apontavam o PSD, sozinho, com melhor score que a coligação que se apresentou às eleições de Setembro de 2023. José Manuel, por contraste, sabe que é imperioso que o CDS mantenha o seu espaço político, para que a soma com o PSD não seja negativa. Assim, é compreensível que vá apontando falhas, levantando questões, opondo-se a muitos assuntos que não estejam no documento de entendimento parlamentar.

Bem sei que há uma importante diferença entre este acordo e o anterior, mas também as Alianças Democráticas Durão - Portas, e Passos-Portas, já para não falar de Sá Carneiro – Freitas, tiveram os seus momentos de fricção, mas foram estes que consolidaram a relevância dos respetivos projetos partidários.

O grande problema, que a crise dos incêndios veio exaltar, é que um bom líder partidário, e um sóbrio presidente da Assembleia, são incompatíveis se protagonizados pela mesma pessoa. Assim, é um desafio para o vulgar cidadão, e difícil de explicar para um observador exterior, a acumulação dois cargos. Onde começa um e acaba o outro. Imaginem Jerónimo se Sousa como Presidente da AR na Geringonça! Alguém que tivesse aterrado na Madeira dia 14, vindo de uma democracia adulta, teria dificuldade em perceber como num dia a primeira figura da Região tecia palavras sóbrias, conciliadoras e equidistantes, para no outro dia, já na pele de presidente do CDS, pedia explicações ao Governo e exigia a presença de governantes no parlamento. Uma espécie de “ Olívia costureira/ Olívia Patroa” onde ambas as posições são corretas, executadas com eficácia e argúcia políticas, mas que não podem ser tomadas pela mesma pessoa. Tem-se como pacífico que Presidente duma Assembleia é alguém com um estatuto senatorial. Alguém já fora do combate político, ou que nunca nele tenha estado. Ora, José Manuel Rodrigues, ao voltar a liderar o CDS, colocou-se de novo no centro desse combate. E, naturalmente, não resistiu a aproveitar um evento tão perene como o incêndio, relevantíssimo para o capital político de líder partidário. Recorde-se como Cafôfo capitalizou as chamas de 2016, ao passar a ideia que estava, ele próprio, no combate ao fogo, de fotógrafo e cameraman atrás, e guiado pelo chefe dos bombeiros. Mas esse centro do combate político é incompatível com um cargo tão singular para a nossa Autonomia, sob pena desta também sair maculada. Não concordava quando antes de 2015 o presidente da ALRAM despia as vestes de 1° figura, acompanhando as visitas do grupo parlamentar do PSD na qualidade de deputado (que o é, indiscutivelmente, mas não é igual aos outros). Não posso concordar, agora, com um Presidente - líder partidário. “1 escudo” o regime aguenta. 2 escudos já tenho dúvidas!

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