Maria Luís Albuquerque, escolhida pelo Governo português para comissária europeia, foi ministra de Estado e das Finanças de Passos Coelho no período da ‘troika’, crítica da direção de Rui Rio e integra atualmente o Conselho Nacional do PSD.
Segundo nome da lista da direção de Luís Montenegro ao Conselho Nacional, logo a seguir a Carlos Moedas, e desde setembro de 2022 membro do Conselho de Supervisão da subsidiária europeia da norte-americana Morgan Stanley, Maria Luís Albuquerque, de 56 anos, sucedeu como ministra das Finanças a Vítor Gaspar, em julho de 2013, tendo-se mantido no cargo até final do executivo liderado por Passos Coelho, em novembro de 2015.
No PSD, foi vice-presidente durante a liderança de Passos Coelho e cabeça de lista dos candidatos a deputados pelo PSD em Setúbal em 2011 e 2015. Em 2019, durante a direção de Rui Rio, de cuja estratégia foi crítica, ficou de fora da lista de candidatos à Assembleia da República.
Em 2022, já sob a liderança de Luís Montenegro, Maria Luís Albuquerque foi o número dois da lista apresentada pela direção ao Conselho Nacional e encabeçada pelo presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, tendo então realçado a oportunidade para “ajudar e contribuir” para os desafios do partido, mas recusado um regresso ao passado.
Licenciada em Economia pela Universidade Lusíada de Lisboa e mestre em Economia Monetária e Financeira pelo ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão), Maria Luís Albuquerque chegou ao Governo em 2011, aos 44 anos, para liderar a secretaria de Estado do Tesouro e Finanças, vinda do Instituto que gere a dívida pública.
Isto no mesmo ano em que a amizade a Passos Coelho, de quem foi professora, a levou a aceitar ser cabeça-de-lista do PSD em Setúbal, nas legislativas, o que considerou um “batismo de fogo” para quem se estava a iniciar na política ativa.
De perfil discreto, esteve envolvida na venda do BPN ao BIC e nas privatizações de empresas como EDP e REN. Isto antes de, em outubro de 2012 o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, ter decidido separar as pastas das Finanças e do Tesouro, ficando a secretaria de Estado das Finanças a cargo de Manuel Rodrigues e mantendo-se Maria Luís Albuquerque com a pasta do Tesouro.
A então secretária de Estado destacou-se a negociar o cancelamento de contratos ‘swap’ (derivados de taxas de juro) tendo sido a primeira personalidade a ser ouvida na comissão parlamentar de inquérito aos ‘swaps’.
O Bloco de Esquerda, através da então deputada Ana Drago, tratou várias vezes Maria Luís Albuquerque pelo epíteto “senhora ‘swap’”, mas o nome não pegou. Isto apesar de ter sido a responsável pela contratação de vários contratos ‘swap’ quando foi diretora do departamento de gestão financeira da gestora da rede ferroviária REFER, entre 2001 e 2007. Em sua defesa, Maria Luís Albuquerque disse que o conjunto dos contratos ‘swap’ realizados pela Refer nos últimos 10 anos teve mesmo um ganho líquido para a empresa.
Casada e mãe de três filhos, Maria Luís Albuquerque nasceu em 1967 em Braga, cidade onde nunca viveu verdadeiramente, como disse em maio de 2011 em entrevista ao jornal Rostos.pt. Então, o seu pai era Comandante da GNR e Maria Luís acompanhava-o nas deslocações, o que a leva aos nove anos para Moçambique, onde o pai vai trabalhar para a Barragem de Cahora Bassa, e em que fica entre 1976 e 1982.
É em Moçambique que diz ter feito a formação ideológica e de personalidade, ao viver a adolescência num período conturbado do país: “Sempre tive um espírito combativo, porque sempre me recusei a aceitar as regras, o cantar o hino, a adoração ao líder. Essas foram situações que me marcaram, porque não aceitava que limitassem as liberdades individuais”, disse ao mesmo jornal, em que lembrou ainda a sua formação católica.
Acabado o ensino preparatório, voltaria para Portugal para casa dos avós, em Armamar, na região do Douro, a terra que diz sentir como mais sua. Isto antes de ir estudar para a capital, num percurso a que atribui o “espírito de grande abertura à mudança”, do gosto por “coisas novas, ideias novas” que desenvolveu.
É em Lisboa que se licencia em economia pela Universidade Lusíada e que faz o mestrado em Economia Monetária e Financeira pelo ISEG.
Numa carreira que começa por lecionar na universidade, Maria Luís Albuquerque foi técnica superior na Direção-Geral do Tesouro e Finanças entre 1996 e 1999, técnica superior do Gabinete de Estudos e Prospetiva Económica do Ministério da Economia entre 1999 e 2001, e desempenhou funções de assessora do Secretário de Estado do Tesouro e das Finanças em 2001, no governo de António Guterres.
Foi ainda Diretora do Departamento de Gestão Financeira da Refer entre 2001 e 2007 e coordenou o Núcleo de Emissões e Mercados do Instituto de Gestão da Tesouraria e do Crédito Público entre 2007 e 2011.
Numa curta declaração feita hoje na residência oficial em São Bento, sem direito a perguntas, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, disse que escolheu Maria Luís Albuquerque com o apoio de todo o Governo, num processo que decorreu com “recato”, e destacou o perfil da antiga ministra de Estado e das Finanças.
“É uma personalidade de reconhecido mérito académico, profissional, político e cívico”, disse. “Desempenhou, entre outras, as atividades de docente universitária, secretária de Estado do Tesouro, ministra de Estado e das Finanças, deputada na Assembleia da República, para além de várias funções no setor público, privado e social”, acrescentou.
Portugal e os outros 26 Estados-membros da União Europeia (UE) têm até sexta-feira para propor os seus candidatos para o posto de comissário europeu no próximo mandato.
Elisa Ferreira é a atual comissária portuguesa, indicada pelo Governo do PS em 2019 para a pasta da Coesão e Reformas.
Entre setembro e outubro vão realizar-se audições públicas no Parlamento Europeu aos nomes propostos para novos comissários europeus, cabendo à assembleia europeia dar o aval final em plenário para, mais tarde, a nova Comissão Europeia tomar posse.
Se todos os nomes propostos tiverem ‘luz verde’ imediata do Parlamento Europeu, o novo colégio de comissários poderia tomar posse já a 01 de novembro, mas com uma rejeição esse prazo já passaria para 01 de dezembro, dado o tempo necessário para o país em causa propor um novo nome e esse candidato ser entrevistado por Ursula von der Leyen e ouvido em audição na assembleia europeia.