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Berlusconi, o polémico assumido da política italiana

JM-Madeira

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Data de publicação
12 Junho 2023
10:22

Silvio Berlusconi, que hoje morreu aos 86 anos, foi uma figura polémica cujos nove anos como primeiro-ministro de Itália foram marcados por acusações de corrupção e escândalos sexuais que culminariam na sua expulsão do Senado, em 2014.

Nove anos depois, aos 86 anos, o multimilionário, empresário e político conservador italiano estava de volta à cena política italiana como senador e líder do partido que fundou, Força Itália, membro da coligação de direita e extrema-direita atualmente no poder - o primeiro Governo do país liderado por uma mulher de extrema-direita, a primeira-ministra Giorgia Meloni -, embora não ocupando qualquer cargo governamental.

No intervalo, entre julho de 2019 e outubro de 2022, ainda passou pelo Parlamento Europeu, de que foi o mais velho deputado, como membro do grupo do Partido Popular Europeu (PPE, democratas-cristãos).

O prestigiado cineasta italiano Nanni Moretti satirizou-o na longa-metragem "O Caimão" (2006), centrada nas dificuldades enfrentadas por um produtor e uma argumentista para arranjarem financiamento para um filme sobre Berlusconi, que ainda tentou travar a exibição, mas não conseguiu.

Também o cineasta italiano Paolo Sorrentino realizou, em 2018, um filme sobre o magnata, intitulado "Loro" e que, embora advertindo no princípio tratar-se de uma obra de ficção, retrata o segundo casamento de Berlusconi, com Veronica Lario (1990-2010), com quem teve três filhos, enquanto dava festas cheias de mulheres, e também as suas tentativas de se manter na política italiana.

Nascido a 29 de setembro de 1936, filho de um bancário milanês, Silvio Berlusconi, grande fã do cantor norte-americano Nat King Cole, começou a trabalhar como animador em barcos de cruzeiro no Mediterrâneo, cantando e dizendo piadas, enquanto estudava Direito.

Terminada a licenciatura na Universidade de Milão, lançou-se nos negócios: começou então uma incrível ascensão que levantou interrogações quanto à origem da sua fortuna, a maior de Itália durante dez anos e em relação à qual sempre foi vago.

Este ano, a revista norte-americana Forbes classificou a sua fortuna e da sua família como a 352.ª maior do mundo, com um património líquido de 6,8 mil milhões de dólares (cerca de 6,2 mil milhões de euros).

Foi sobretudo no setor da televisão que se manifestou a veia criativa deste grande comunicador, que, a partir da década de 1980, não hesitou em "polvilhar" os seus programas com mulheres nuas para captar audiências.

A 'holding' da família Berlusconi, a Fininvest, inclui três estações televisivas, jornais, as edições Mondadori, e incluiu ainda até 2017 - a cereja em cima do bolo, para este fã de futebol - o AC Milan, considerado um dos clubes mais importantes do mundo, que acabou por vender a um grupo chinês por cerca de 740 milhões de euros, após ter conquistado 29 troféus em 31 anos, presidindo atualmente ao AC Monza, clube da região da Lombardia.

Em 1994, 'il Cavaliere' - o mais jovem distinguido como cavaleiro da Ordem de Mérito do Trabalho, que acabaria por abandonar voluntariamente em 2014 - iniciou a sua carreira política: em apenas algumas semanas, pôs de pé o partido Força Itália e venceu as eleições, mas, abandonado pelos aliados, o seu Governo caiu ao fim de sete meses.

Em 2001, reconquistou o poder e conservou-o até abril de 2006 - um recorde na história da Itália do pós-guerra.

Desgastado por esses cinco anos, foi derrotado por uma pequena margem nas legislativas seguintes, mas desforrou-se dois anos depois, instalando-se ao comando do país pela terceira vez em 2008, até novembro de 2011, quando se viu obrigado a ceder as rédeas de uma Itália afetada por uma grave crise financeira ao economista Mario Monti.

Durante todos esses anos, nos seus diversos processos judiciais por corrupção e fraude fiscal, Berlusconi apresentou-se sempre como uma vítima da magistratura de esquerda, até uma condenação definitiva a 01 de agosto de 2013: a sua pena de quatro anos de prisão por fraude fiscal no caso Mediaset, três dos quais suprimidos por uma amnistia, foi confirmada pelo Supremo Tribunal.

Muito preocupado com a sua aparência, este homem de cabelo escasso pintado de castanho, a quem uma espessa camada de base dava um ar eternamente bronzeado, recorreu durante anos sem complexos a cirurgias estéticas.

O seu gosto assumido por mulheres bonitas, incluindo 'acompanhantes de luxo', acabou por lhe valer, em 2009, um pedido de divórcio, bem como um processo por prostituição de menor e abuso de poder, tendo como figuras centrais a jovem marroquina Karima El Mahrug, conhecida como 'Ruby Rubacuori' (Ruby Rouba-corações) e as chamadas festas de 'Bunga-Bunga', no escândalo que ficou conhecido como "Rubygate".

Hiperativo e dormindo poucas horas, tinha problemas cardíacos desde os anos 1990 e implantou em 2006 um 'pace-maker' nos Estados Unidos; em 2016, foi submetido a uma cirurgia de peito aberto ao coração, em 2019 voltou ao bloco operatório devido a uma obstrução intestinal e, em 2020, foi várias vezes hospitalizado devido a sequelas de covid-19.

Em 1997, tinha já sido operado a um tumor na próstata e, ao longo dos anos, foi diversas vezes internado por problemas no trato urinário; por último, já em abril de 2023, foi-lhe diagnosticada uma leucemia.

Pai de cinco filhos nascidos de dois casamentos e várias vezes avô, este personagem excêntrico, companheiro de uma mulher 53 anos mais nova - Marina Fascina, deputada do seu partido, Força Itália, também eleita deputada nas legislativas de 2022 -, desperta nos seus compatriotas admiração incondicional ou ódio visceral.

A música foi, a par da política e do futebol, uma das suas grandes paixões: quando era jovem, sonhava ser um cantor de charme e, mais tarde, chegou a gravar um disco de canções de amor napolitanas, além de ter sido coautor dos hinos do AC Milan e do seu partido, Força Itália.

As suas piadas racistas e 'gaffes' diplomáticas também fizeram manchetes, tendo numa ocasião comparado um eurodeputado alemão a um nazi.

A sua descrição do ex-presidente norte-americano Barack Obama como "bronzeado", o hábito de 'flirtar' com mulheres em cargos políticos de topo e a sua amizade com o falecido ditador líbio, Muhammar Kadhafi, e, mais recentemente, com o Presidente russo, Vladimir Putin - especialmente depois de a Rússia ter invadido a vizinha Ucrânia, a 24 de fevereiro de 2022 - ajudaram igualmente a danificar a sua imagem.

Mas Silvio Berlusconi nunca pediu desculpas e sempre cultivou a controvérsia, tendo chegado a classificar-se como "o melhor líder político da Europa e do mundo", depois de se ter comparado com Jesus Cristo e de ter também afirmado: "Apenas Napoleão fez mais do que eu fiz. Mas eu sou definitivamente mais alto".

Lusa

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