MADEIRA Meteorologia

Artigo de Opinião

23/05/2024 08:00

A marcha do tempo integra-se na vida, do mesmo modo que o fogo, a terra, a água e o ar, desde a Antiguidade seriam os elementos comuns ao Universo, na perspectiva dos homens que, por força da sua inteligência sobreviveram ao passar dos séculos pelos pensamentos que deixaram, ajudando a glosar a História da Humanidade e constituindo eternas mensagens para todas as gerações.

Na verdade, o tempo marca a vida: os dias, os meses, os anos, os séculos! Como a tricotomia, passado, presente e futuro é irreversível e fatal, ditando a evolução, a mudança, o avançar no tempo, o caminhar para o fim!

Mas pouco importa ao ser humano a evidência destas irrefutáveis realidades. Aprendemos a privilegiar o ilusório como existência material quando é o virtual que o qualifica, seja no dia a dia ou a acompanhar as páginas do léxico comum.

E o correr dos anos, continuo e mensurável, acaba por ser equiparado aos marcos de uma estrada que, um a um, à medida que são ultrapassados, nos vão aproximando do fim: da viagem e da vida como a conhecemos!

Para equilibrar o percurso, como pontos de abastecimento ou de recuperação de forças, surge a memória, esse mundo de recordações que cogitam no consciente, sempre preparada para vir em auxílio dos espíritos perdidos ou à procura de apoio.

Abstraindo-se da envolvência que é o pragmatismo marcado pelos ponteiros do relógio, embrenhamo-nos nesses domínios das sensações registadas por estados de alma que invadem o cérebro, dando corpo ao espaço onde vagueiam esses entes que nos são queridos, desprovidos de matéria que lhes dê forma permitindo a identidade necessária à detecção pelos nossos sentidos.

Ninguém escapa à marcha do tempo! Por muito que procuremos ou queiramos fazê-lo! E este voluntário registar dos ciclos do cosmos, apesar de matematizar existências, tem o condão de nos consciencializar das dimensões que nos envolvem projectando a brevidade da vida: Um ano a mais, um ano a menos! Até quando?

Se a aprendizagem é contínua ao materializar a aquisição de conhecimentos, a indelével curva que assinala o metamorfosear do nosso eu, não descortina, de imediato, as distâncias que separam presente e passado. Concomitantemente consciencializamo-nos que o passar dos anos vai diluindo o interminável virtualismo do futuro num pretérito em constante crescimento, cada vez mais rico, mais importante e mais desejado, porque a saudade assim o entende.

Há mais de quatro décadas, há quarenta e quatro anos, em Outubro de 1980, era descerrada uma lápide metálica, nas paredes exteriores da casa onde nasceu meu Pai, assinalando tal facto. Por esse tempo, deixou pelas palavras de um improviso, o que lhe ia na alma e que agora transcrevo:

“O tempo vive dentro de nós e não fora de nós...

E porque o tempo vive em mim e porque ele se projecta, pois, no que está em torno de nós, porque o que está em torno de nós faz parte do passado, o meu espírito neste momento recua, o meu espírito vai a esse passado longínquo e eu estou aqui, agora, nesta ocasião em que falo, como o rapazinho que aqui viveu, o rapazinho que aqui brincou numa democracia plena com todos os rapazes da minha idade.

E eu estou aqui como uma criança desse tempo, mas, por isso mesmo é que se evoca esta casa onde nasci, casa de fantasmas, mas casa onde vivem espíritos. O espírito de meu pai, da minha mãe, de minha avó, o espírito daqueles que foram os meus antepassados. E se é certo, e eu creio, que a metafísica é uma realidade, porque a vida corpórea é simplesmente transitória – isto já diziam Platão e Aristóteles – eu creio realmente na imortalidade da alma.

Aqui em torno de nós estão esses espíritos que me foram caros... Mas devo dizer, são esses, são outros, são aqueles que pertenceram à minha família dispersa por estes sítios. Uns que foram, outros que ficaram, esses que são espíritos hoje e com quem convivi... Estou no passado, neste momento, num passado distante. É por isso que, em nome desses que foram, desses espíritos que aqui pululam, em nome deles, eu falo.

Nós somos telúricos, por mais que queiramos deixar de o ser. Mas somos. A terra vive em nós porque as primeiras sensações que eu tive foram as sensações da montanha, as sensações do verde, as sensações da vida vegetal e animal.”

Assinalam-se hoje quarenta e um anos de ausência eterna de meu Pai desta marcha do tempo, para quem a brevidade da vida deixou de contar!

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