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Artigo de Opinião

O ESPÍRITO DOS TEMPOS

24/01/2025 08:00

Quem acompanhou sentiu logo: a comissão de inquérito criada na Assembleia Legislativa da Madeira para o apuramento de responsabilidades políticas no combate aos incêndios de Agosto de 2024, nunca quis apurar ou inquirir sobre coisa nenhuma. E desde o início que os seus mentores tinham um objectivo único – fustigar na praça pública, sem contemplação, Miguel Albuquerque e Pedro Ramos, dois ódios antigos.

Foi com esse intuito que o PS escolheu para presidir à comissão uma socialista disfarçada de independente que já havia revelado ambição quando se candidatou à presidência da ALM, perdendo por uma unha-negra. E ela não desiludiu o PS porque enquanto houve música, houve dança, valendo tudo: tentativas de humilhação públicas a convidados, agendamentos convenientes, atropelos às regras. Mas pelo menos serviu para revelar a verdade. O inquérito era, afinal, um interrogatório, não digo digno de uma Gestapo, mas com um suave perfume pidesco. Socialistas e verde-populistas não perderam a oportunidade de acicatar velhos ressentimentos.

E tudo ia de vento em popa até que a anunciada moção de censura do Chega derrubou o governo. O resultado foi a marcação de novas eleições e a iminente dissolução da ALM, que deve estar por horas. Perante este cenário, a comissão de inquérito ficou obviamente prejudicada. Primeiro, porque não consegue cumprir os 180 dias previstos; depois, porque não consegue ouvir todas as pessoas que queria ouvir; e, finalmente, porque deixou de ser possível apresentar e debater o relatório dos trabalhos em plenário, um direito dos deputados.

Isto devia parecer óbvio para qualquer pessoa de bem. Mas não o é para a presidente da comissão, a tal socialista disfarçada de independente. Num assomo de arrogância, e numa violação clara dos seus deveres de neutralidade, ela não se fez rogada: se não é possível continuar a explorar o filão da comissão por via normal e legal, então há que promover a imaginação para fabricar procedimentos alternativos.

Assim, nada como forjar um novo conceito, o conceito de relatório parcial de comissão de inquérito. Ou seja, já que não há tempo para concluir os trabalhos, faz-se um relatório parcial. Com o quê? Boa pergunta, com uma bela resposta. Voltemos ao início da história. Relembro que a presidente socialista disfarçada de independente tinha uma missão bem definida que era usar a comissão com objectivos partidários identificados. E quase era bem-sucedida. Como havia dado prioridade às solicitações do PS e dos verdes-populistas, deixando para mais tarde as audições propostas por outras forças políticas, tentou acelerar a coisa e resolver tudo numa espécie de rapidinha em formato de relatório.

Ou seja, mesmo faltando gente para ser ouvida, mesmo não se tendo cumprido os 180 dias previstos, e mesmo não sendo possível discutir e apresentar o relatório em plenário, a presidente e deputada socialista disfarçada de independente entendeu que se devia inventar um relatório. Para se perceber quão ridícula é a questão, basta imaginar um julgamento onde só se ouve quem acusa e se silencia quem se defende. Parece-lhe grotesco? É porque é. Mas por mais abstrusa que seja uma ideia, há sempre tolos prontos a segui-la. E nesse campo o JPP raramente desilude. Sim, apesar do arzinho vestal, o JPP apoiou o esquema manhoso. A coisa só não foi avante, porque os restantes partidos se uniram e impediram a partidarização e o atropelo insano.

Para finalizar, recordo-lhe, caro leitor, que a referida presidente desta comissão de inquérito é a mesma socialista disfarçada de independente que há mais de três meses se faz desentendida, com a anuência do camarada de partido presidente da Comissão de Educação, recusando-se vir à ALM explicar as razões que levaram o ISAL – instituição onde é (era?) vice-directora – a perder a sua acreditação junto da Agência de Avaliação e Acreditação do Ensino Superior. Não sendo coisa pouca, esta perda obriga a instituição a fechar as portas a alunos, professores e funcionários, um escândalo que o PS quer, já se percebeu, silenciar.

Para isto, não há pressa, ou vontade, para uma conversa, uma audição, um esclarecimento. Nem que fosse por consideração às famílias e alunos que investiram 3000€ ao ano numa instituição cuja direcção responde pela sua credibilidade. Ou pela falta dela.

O que mais admiro nestes políticos de fancaria é o modo cândido como se apresentam à opinião pública como apologistas da liberdade, como gigantes do cumprimento das regras, como democratas que nos vêm ensinar o que é a verdadeira democracia. Claro que é tudo fantochada porque basta sentirem o cheirinho do poder nas unhas, e a primeira coisa que fazem é perseguir os outros, enquanto tentam se safar dos seus próprios sarilhos. O resto, em modo parcial ou integral, é conversa.

OPINIÃO EM DESTAQUE
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