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África do Sul corre risco de replicar situação política e económica venezuelana

Data de publicação
26 Abril 2024
14:09

A investigadora Anthea Jeffery do Instituto Sul-Africano de Relações Raciais (SAIRR) considerou que a África do Sul corre “sério risco” de acompanhar a Venezuela no plano político e económico.

“Julgo que existe um risco muito grande de podermos seguir o tipo de caminho venezuelano em que as políticas erradas que ameaçam verdadeiramente os direitos de propriedade conduzem a uma grande inflação e a um grande sofrimento económico, e a um êxodo de tantas pessoas que podem sair do país”, salientou.

Em entrevista à agência Lusa, a diretora de pesquisa política do SAIRR considerou que o paralelismo entre a economia da África do Sul, a mais desenvolvida do continente, e a da Venezuela “é mais forte do que com o Zimbabué, que é uma economia agrícola, bem-sucedida nesse aspeto, mas não tão sofisticada como a da África do Sul”.

“A Venezuela era um dos países mais ricos da América Latina antes da chegada ao poder de Hugo Chaves, com a sua crença no socialismo do século XXI e todos os desejos de o alcançar, que incluía a expropriação sem compensação financeira”, sublinhou.

Questionada se a África do Sul construiu um modelo “único” de democracia desde o fim do anterior regime de ‘apartheid’, em 1994, a investigadora sul-africana expressou “receio que a qualidade da nossa democracia não seja o que deveria ser e isto remonta a um período anterior a 1994”.

A investigadora explicou que o ANC “chegou ao poder porque estava absolutamente determinado a alcançar o domínio sobre a África do Sul, porque então seria capaz de prosseguir a sua crença no socialismo, o seu desejo de implementar uma revolução nacional democrática ao longo de décadas, que é o que tem feito”.

“E sempre considerou os partidos da oposição como simples barreiras à revolução que perseguia e tentou eliminar ou enfraquecer os seus rivais negros antes de 1994 e conseguiu fazê-lo significativamente, o que significou que não havia alternativa credível ao ANC quando assumiu o poder em 1994 e, claro, o verdadeiro teste da democracia é saber se é capaz de acomodar uma mudança no poder de um partido para um partido rival e na África do Sul nunca houve qualquer perspetiva disso porque os partidos com maior probabilidade de concorrer com o ANC estavam muito enfraquecidos”, salientou.

Na ótica de Anthea Jeffery, a contagem regressiva para o Socialismo na África do Sul teve início em 1989 quando Joe Slovo, na altura um dos dirigentes mais influentes do Partido Comunista da África do Sul (SACP), publicou um artigo a questionar se o Socialismo “falhou” após o exemplo da antiga União Soviética.

“E chegou à conclusão de que não, e disse o que muitos outros socialistas em todo o mundo disseram desde então, que o que aconteceu na União Soviética foi um erro lamentável, que um sistema do que se supõe ser o socialismo democrático se tornou infelizmente demasiado burocrático e demasiado repressivo e por isso foi mal feito e não foi o verdadeiro socialismo que foi tentado”, salientou, acrescentando que “deste modo, o argumento é que o socialismo real nunca foi sequer tentado, mas a África do Sul pode fazer a coisa certa, pode introduzir uma forma democrática e de socialismo real se perseguir esse objetivo com determinação suficiente”, afirmou a investigadora Anthea Jeffery à Lusa.

“Julgo que é obviamente um grande argumento intelectual, os russos têm todas as razões pelas quais o socialismo se revelou tão incrivelmente repressivo apesar de tudo o que era ineficiente na União Soviética e noutros lugares, mas é a justificação para o porquê do nosso Partido Comunista, que sempre dominou o ANC, e muitos outros partidos comunistas e socialistas em todo o mundo, ainda estarem empenhados em perseguir o socialismo”, adiantou.

De acordo com as sondagens, o ANC, no poder desde as primeiras eleições democráticas do país em 1994, poderá perder pela primeira vez a maioria absoluta no parlamento e forçado a formar um Governo de coligação.

O partido Congresso Nacional Africano (ANC), antigo movimento de Libertação nacionalista liderado por Mandela, governa em coligação com o Partido Comunista da África do Sul (SACP) e a Confederação Sindical da África do Sul (COSATU).

A economia sul-africana, a mais desenvolvida no continente, encontra-se numa trajetória de baixo crescimento de emprego, com pobreza persistente desde a crise financeira mundial de 2008 e 2009; a taxa de criminalidade é das mais altas do mundo, sendo o impacto do crime estimado em pelo menos 10% do PIB anual, segundo uma avaliação do Banco Mundial, em 2023.

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