Na semana que antecedeu a do 10 de Junho, um acontecimento inédito e inesperado abalou a ordeira política portuguesa.
O município do Porto, sob proposta de Rui Moreira, um Presidente de Câmara que nos acostumou a não deixar muitas coisas por dizer, deliberou sair da Associação Nacional de Municípios.
O Presidente da República logo se apressou a comentar, não os motivos, sim a saída.
E sem surpreender, a sua preocupação foi com o agitar da morna, conveniente e costumeira calmaria do sistema.
Marcelo apelou a que tivessem bom senso. Sim. Néscios eram os autarcas do Porto ao quererem agitar um sistema que funciona tão certinho, convenientemente dócil e adaptado à política centralista de Lisboa.
Como se atrevem. Isto está tudo a funcionar sem problemas e ordeiramente alinhado. Vêm estes senhores do Porto colocar em causa a "paz podre" que alimenta a Terceira República? Nem pensar!
2. Elogiar a arraia miúda
No Dia de Portugal, o Presidente da República fez um discurso a elogiar o Povo. A forma é conhecida e tema não surpreende. Foi Povo, Povo e mais Povo. Na falta de resposta… elogia-se até à exaustão.
Porém, na embalagem discursiva de dizer coisas, resolveu citar Fernão Lopes para chamar de arraia miúda ao Povo.
Alguma vez ser chamado de arraia miúda é elogio?
Não é para português nenhum, em qualquer parte do Mundo.
Arraia miúda sempre é lido e entendido como coisa menor, sem valor, mundiça, povinho, ralé, pé-descalço, classe inferior da sociedade, plebe, sem valor.
Logo, mesmo que a intenção seja a melhor. Mesmo que queira elevar "o Povo, o Povo, o Povo" aos píncaros do elogio, que o faça esquecer-se das inações de um Presidente, borrou a pintura com esta rasteira, quase ofensa, nesga de desconsideração.
Não é para Marcelo esta trapalhada. Nem para o Dia de Portugal.
Mas se calhar tudo se encaixa. Na verdade, o Povo não é visto de outra forma pelos mais altos dignitários do Estado, a não ser como… arraia miúda!
E parece não se importar. O folguedo e as palmadinhas nas costas, parecem ser suficientes para alegrar um fado eterno e contentar a multidão!
3. Um luto nacional… que não atrapalhe
A pintora Paula Rego faleceu, dia 8 de junho. Partiu uma criadora que não deixava ninguém indiferente. Por gostar ou por detestar o seu trabalho.
Logo se apressou Marcelo, a anunciar que seria decretado Luto Nacional. Ia conversar com o governo sobre o tema.
A Câmara Municipal de Cascais, município onde fica o museu que alberga parte das suas obras, A Casa das Histórias, sem espavento deliberou Luto Municipal para o dia seguinte, dia 9 de junho.
O governo, ao decretar no próprio dia 8 que seria Luto Nacional mas que faltava ver o dia, dado terem escolhido o das exéquias fúnebres, coloca-se na posição estranha de quem parece querer escolher um dia conveniente.
Não de memória e respeito pela artista. Sim que não atrapalhe as comemorações do 10 de Junho, que tinham início precisamente no dia 9!
Só esta aparência e esta suspeita, é em si lamentável!