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Artigo de Opinião

Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses

5/12/2024 07:40

É a economia, estúpido, é uma célebre frase do início dos anos 90, que resumia de forma simples o que levava as pessoas a votarem de uma certa maneira. O estado da economia e sobretudo a percepção das pessoas com o rumo das coisas tem sido veiculado como o fator que levou à vitória de Trump nas eleições norte-americanas. As pessoas terão votado como votaram, mesmo conhecendo o perfil de em quem estavam a votar e os riscos de votar dessa forma, porque o custo de vida era demasiado alto e por sentirem que as coisas não estavam bem. Naturalmente, para além da impopularidade de Biden e da gestão desastrosa destas eleições por parte do Partido Democrático.

Se isso é suficiente para justificar que mais de 70 milhões de pessoas votassem em quem votaram, é mais duvidoso. Os eleitores não são parvos e votaram sabendo muito bem aquilo em que estavam a votar. E isso é assinalável, já que mostra que achavam que o que tinham pela frente era uma opção viável, apesar dos comportamentos bem visíveis.

Sim, as questões da economia contaram muito e esse terá sido o fator de maior peso, sobretudo numa cultura que não tem problema com ruturas quando acha que as coisas não estão bem. Mas não esqueçamos outras dimensões, como o facto de existir uma América que se identifica com aquele funcionamento que prevaleceu nesta ocasião e que não é aquela América idealizada em que frequentemente pensamos. E também a velhinha questão das classes sociais e dos trabalhadores numa sociedade com elevados níveis de desigualdade, um fator que torna as democracias muito mais vulneráveis. A disparidade no plano social, económico e nas oportunidades geram ressentimento, que é aproveitado por demagogos e populistas, no habitual registo de “nós contra eles”. A este propósito, não podemos ignorar o clima de tribalização e extremismo que vivemos, e que é potenciado pelas redes e pelos famigerados algoritmos (já escrevemos antes sobre isto, por exemplo: Todos Todos Todos, em https://www.jm-madeira.pt/opiniao_cronicas/todos_todos_todos-PYJMOP9512, ou A Tribalização e a Psicologia do Extremismo, em https://www.jm-madeira.pt/opiniao_cronicas/a_tribalizacao_e_psicologia_do_extremismo-EYJMOP6367).

Mas se Trump 2016 parecia um epifenómeno e uma presidência de improviso, a versão 2.0 é outra. Há uma equipa, um elenco governativo - que muitos classificam de distópico, mas que faz jus ao prometido - e o apoio de uma espécie de tecno-oligarquia que domina as redes sociais. “Uma nova ordem dos séculos”, para citar Elon Musk, que também se dirigiu aos utilizadores da sua rede social dizendo que “os media são vocês”. Resta saber que convivência todas aquelas personalidades conseguirão manter.

Isto certamente vai ter várias consequências. Para a democracia, um regime que, como sabemos, é frágil, e para o tipo de contágio, apoio e encorajamento a registos mais autoritários noutras geografias, incluindo na Europa. Para o decurso das guerras e conflitos que conhecemos. Para a luta contra as alterações climáticas. E para o clima e a convivência social. Todos fatores centrais na saúde psicológica das pessoas, no bem estar nas sociedades e a convivência entre os Povos. A questão central agora é se a sociedade civil, as instituições e a democracia norte-americana conseguirão resistir. E se e como é que nós, noutras geografias, iremos e conseguiremos lidar com isto.

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