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Artigo de Opinião

HISTÓRIAS DA MINHA HISTÓRIA

13/09/2024 07:30

Um dia, uma qualquer vedeta mediática anunciou ao mundo que estava a passar férias “em” Porto Santo. A preposição arranhou-me o ouvido, mas achei que seria esquecida e, principalmente, que nenhum madeirense a utilizaria. Pelo contrário, aquele “em” irritante parece ter agradado a jornalistas e apresentadores dos vários órgãos de comunicação da ilha, pois muitos passaram a ecoá-lo com tanto orgulho e convicção que a tendência já se vai propagando pela população que, tomando-os como modelo, também adere ao tal “em”. Em suma: vai ficando cada vez mais modernaço dizer vou “a” Porto Santo passar férias, ou “em” Porto Santo encontro muitos amigos. Se a moda continua a avançar com este entusiasmo, ainda acabamos a ouvir que vivemos em Madeira.

Não, por favor! Devemos continuar a dizer como sempre dissemos: vou ao Porto Santo e estou no Porto Santo.

A cobertura televisiva dos recentes incêndios na nossa ilha foi pródiga nestes equívocos no uso das preposições que antecedem os topónimos, ou seja, o nome pelo qual são designadas as diferentes localidades. Jornalistas e comentadores de todos os canais nacionais, naturalmente por desconhecimento, referiram as localidades precedendo-as da preposição inadequada e logo alguns residentes locais, iluminados pelo farol continental, seguiram o exemplo. Fizeram mal!

Então, que preposição utilizar? Porque devo dizer no Curral das Freiras, mas em Câmara de Lobos?

Tudo depende do facto de o topónimo ser designado na companhia de um artigo, como nos casos de: o Curral das Freiras ou a Tabua, ao contrário do que sucede com Câmara de Lobos ou Santana cuja designação não traz apensa qualquer artigo.

Ora, seguindo a regra, se o nome de uma localidade é antecedido de artigo definido — masculino ou feminino — como o Porto Santo, o Curral das Freiras, a Ribeira Brava, a Fajã das Galinhas, o Algarve, etc. devemos usar a preposição contraída com esse artigo, quando as mencionamos, ou seja, no ou na.

Por outro lado, quando o topónimo não é antecedido de artigo, como é o caso de, por exemplo, Câmara de Lobos, Machico, São Jorge, Lisboa, etc. a preposição deverá ser em. É por isso que devo dizer: passo as férias no Porto Santo e não em Porto Santo, da mesma forma que digo no Porto e não em Porto; mas em Câmara de Lobos há uma belíssima biblioteca, ou em São Jorge gosto de visitar o moinho antigo.

Da mesma forma, quando falamos da deslocação para esses locais, devemos usar a preposição a, aglutinada com o artigo, caso ele se use associado ao topónimo, isto é, digo: vou ao (a+o) Porto Santo, ou vou à (a+a) Fajã da Nogueira. (Já agora, convém não esquecer que o acento sobre a contração “à” é sempre grave).

No caso das localidades referidas sem artigo, então usamos apenas a preposição a, como, por exemplo, vou a Lisboa ou a Machico (e não ao Machico como por vezes se ouve).

Por isso, por favor, se me lerem, passem a palavra: vamos continuar a dizer: vou ao Porto Santo e no Porto Santo gosto de apreciar a praia.

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