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Presidente admite que África do Sul foi incapaz de impedir tumultos de julho

JM-Madeira

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Data de publicação
01 Abril 2022
12:25

O Presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, reconheceu hoje que o Governo foi "incapaz" de impedir os violentos tumultos que sacudiram o país no ano passado causando mais de 300 mortos e avultados prejuízos materiais.

"Reconhecemos que, como Governo, estávamos mal preparados para enfrentar uma campanha orquestrada de violência pública, destruição e sabotagem desta natureza", referiu o Presidente perante a Comissão Sul-Africana de Direitos Humanos (SAHRC).

No seu depoimento, Ramaphosa reiterou que os violentos tumultos e pilhagens no ano passado "visaram paralisar a economia, causar instabilidade social e enfraquecer severamente - ou mesmo desalojar - o Estado democrático".

Segundo o chefe de Estado sul-africano, o "caos" que o país viveu durante duas semanas em julho foi uma "cortina de fumo para realizar atos de sabotagem económica, como ataques a camiões comerciais de transporte de mercadorias, invasões e incêndios em centros comerciais, fábricas e armazéns e o bloqueio de estradas e corredores vitais para a atividade económica".

"Embora se elogie as ações corajosas das nossas forças de segurança no terreno, devemos admitir que não tínhamos as capacidades e os planos para responder de forma rápida e decisiva", sublinhou.

Na ótica de Ramaphosa, "o que este país viveu não foi uma revolta popular dos pobres (…), foi uma tentativa de insurreição", acrescentando que "a infraestrutura económica do país foi visada de modo a colocar a economia de joelhos e, assim, desestabilizar a democracia [sul-africana]".

"Independentemente da intenção, era uma situação para a qual não estávamos preparados", frisou.

"Embora houvesse relatórios de inteligência sobre a possibilidade de instabilidade, nem os serviços de segurança nem o Governo anteciparam de maneira mais ampla a natureza, extensão ou ferocidade desses eventos", adiantou Ramaphosa, acrescentando: "Esta foi uma falha que reconhecemos e que estamos a trabalhar para resolver".

Todavia, no seu depoimento perante a Comissão Sul-Africana de Direitos Humanos, o Presidente Ramaphosa, que é também presidente do Congresso Nacional Africano (ANC), o partido no poder, escusou-se a explicar se foi de facto alertado antecipadamente pela Agência de Segurança de Estado (SSA, na sigla em inglês) e quais as decisões que tomou a esse respeito.

Analistas sul-africanos consideram que os violentos tumultos no ano passado resultam de uma "luta de fações" pelo poder no seio do antigo movimento de libertação ANC, no poder desde 1994.

O Presidente sul-africano referiu que "a identidade dos autores e os motivos das suas ações são objeto de investigações e processos judiciais em curso", sem avançar detalhes.

"Haverá consequências após a conclusão de todas as investigações atualmente em curso às irregularidades nas instituições responsáveis pelas informações e aplicação da lei e ordem", salientou Cyril Ramaphosa.

A SAHRC, que está a investigar os distúrbios de julho de 2021 nas províncias do KwaZulu-Natal e Gauteng, onde se situa Joanesburgo, a capital económica, e Pretória, a capital do país, ouviu nas últimas cinco semanas depoimentos de vários funcionários do governo, incluindo ministros e governadores provinciais.

Mais de 350 pessoas foram mortas e pelo menos 40.000 empresas sul-africanas foram saqueadas, queimadas ou vandalizadas, nos violentos protestos que eclodiram em julho após a prisão do ex-presidente Jacob Zuma, segundo o governo sul-africano.

KwaZulu-Natal e Gauteng foram as províncias mais afetadas pelos violentos tumultos e pilhagens que sacudiram o país durante duas semanas.

O Governo sul-africano contabilizou em cerca de 50 mil milhões de rands (2,8 mil milhões de euros) os prejuízos materiais em resultado da violência.

Os primeiros incidentes aconteceram nos arredores da cidade portuária de Durban, no dia seguinte à prisão do ex-presidente Jacob Zuma, por desrespeito ao Tribunal Constitucional, e a violência alastrou à cidade de Joanesburgo, bloqueando o principal corredor de abastecimento alimentar e de combustível.

Zuma foi condenado a 15 meses de prisão por se ter recusado a comparecer perante a comissão judicial ‘Zondo’ de investigação à grande corrupção sob sua presidência (2009-2018).

O ex-presidente foi libertado dois meses depois por motivos de saúde, indicaram as autoridades de Pretória.

Lusa

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