O homem detido numa operação que desmantelou uma estrutura que criava milhares de burlas informáticas “olá pai, olá mãe” está proibido de sair do país e sujeito a apresentações periódicas à PSP, disse hoje fonte judicial.
O arguido foi detido na segunda-feira pela Polícia Judiciária (PJ) e presente ao juízo de instrução criminal de Leiria na terça-feira, mas o interrogatório judicial acabou interrompido devido à greve às horas extraordinárias dos funcionários judiciais, adiantou à agência Lusa a mesma fonte.
O interrogatório terminou hoje, com o juiz de instrução criminal a determinar ao arguido, como medidas de coação, a proibição de se ausentar do país, entregando o passaporte, e apresentações periódicas, uma vez por semana, numa esquadra da Polícia de Segurança Pública (PSP).
Na terça-feira, a PJ anunciou que desmantelou uma estrutura que criava milhares de burlas informáticas “olá pai, olá mãe” e deteve um homem suspeito dos crimes de burla qualificada, associação criminosa e branqueamento de capitais.
Em comunicado, a PJ explicou que na sequência da denúncia, recebida em janeiro, o Departamento de Investigação Criminal (DIC) de Leiria fez diligências que permitiram “identificar coincidências e apensar mais sete inquéritos, notando-se a utilização massiva de números de telemóveis irrepetíveis, de operadoras nacionais, para a prática deste tipo de ilícito, o que espoletou alertas e obrigou ao recurso a meios especiais de obtenção de prova”.
De acordo com a PJ, além do detido, cidadão estrangeiro de 38 anos, foram ainda constituídas arguidas a mulher e filha daquele.
“No decorrer da operação, a PJ apreendeu 49 ‘modem’, que acoplavam 32 cartões SIM por aparelho, o que significava que operavam 1.568 cartões em simultâneo”, adiantou a PJ, assinalando que “esta capacidade, num primeiro momento, permitia a criação de milhares de contas, principalmente no WhatsApp, bem como a remessa/receção de mensagens na ordem dos milhares por dia, através da fraude ‘olá pai, olá mãe’ e outros fenómenos de burlas em ambiente digital”.
A PJ esclareceu que se registou “um padrão repetido com a utilização massiva de milhares de cartões, como se depreende da apreensão de 32 mil cartões já utilizados nas práticas criminosas”.
“Foi, também, identificada a interação com terceiros, em rede, sendo recolhida prova de suspeitos residentes num país do centro da Europa”, referiu a PJ, acrescentando que “as diligências de investigação identificaram o local onde estava montada a estrutura informática e de comunicações, no domicílio do detido”.
A PJ acredita que com esta operação é interrompida “a consumação, em território nacional e no estrangeiro, de milhares de burlas informáticas”.
No mesmo dia, em conferência de imprensa, na sede da PJ, em Lisboa, o diretor do DIC de Leiria, Avelino Lima, disse que a primeira denúncia é de uma burla de quase 500 euros, mas outra burla associada ao inquérito ascendia a 10 mil euros.
“Neste inquérito já estão sete inquéritos apensados e falamos na ordem dos 40 mil euros de lesão daquelas vítimas. Já foram identificados só na PJ quase mais duas dezenas de inquéritos. Todo este trabalho será agora complementado com informações dos outros órgãos de polícia criminal. Aí poderemos ter uma dimensão mais concreta e será de elevadíssima dimensão o número de burlas”, frisou Avelino Lima.
Segundo Avelino Lima, “a complexidade destas investigações é elevada, porque isto não se cinge a Portugal”.
“Estamos a falar de criminalidade organizada, complexa e à escala planetária”, explicou Avelino Lima, que avisou também para a importância de as vítimas comunicarem mais rapidamente com as autoridades.
O diretor do DIC de Leiria deixou ainda um alerta à população para estar mais atenta aos cuidados necessários nas interações com desconhecidos em ambiente digital.
Segundo este responsável da PJ, o suspeito estava em território nacional desde setembro e obtinha os seus rendimentos a partir desta atividade.