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Livro honra memória dos presos políticos do Estado Novo

Data de publicação
12 Abril 2024
19:15

Uma fotografia, datada de 1936, de presos da Revolta do Leite, com o padre César Teixeira da Fonte ao centro, na prisão do Lazareto, ilustra a capa do livro ‘Presos Políticos – Do Estado Novo na Madeira’, apresentado esta tarde, no salão nobre da Assembleia Legislativa da Madeira.

O jornalista Élvio Passos e o advogado João Palla Lizardo são os autores da obra cuja apresentação esteve a cargo do ex-procurador-geral da República, Cunha Rodrigues. Conforme o próprio disse, aceitou o convite depois de ler o prefácio de Ireneu Barreto, que considera “uma excelente chave de leitura para a obra”.

“O livro mostra um lado por vezes ignorado da bela e doce ilha da Madeira: a sua capacidade de resistência, insubordinação e revolta”, sublinhou Cunha Rodrigues, considerando, de seguida, o facto de que “os autores tiveram o cuidado de não enveredar pelo tratamento gratuito de questões que a ciência política ainda não resolveu definitivamente”.

Em declarações aos jornalistas, momentos antes da sessão, Élvio Passos destacou que a PIDE “não teve o papel brando que sempre se fez crer” e que vai continuar a investigar a ação da polícia política do Estado Novo. O livro, editado pelo Diário de Notícias, incide sobre os presos políticos, a maior parte relacionados com a Revolta do Leite, de 1936, acima das cinco centenas. A totalidade ronda os 1.800 presos.

Já na sessão, João Palla Lizardo lamentou não terem conseguido, nos dois anos de investigação, apurar os efeitos das prisões da PIDE nas “pessoas normais” que, sem perceberem porquê, eram vítimas de detenções arbitrárias. No caso da Madeira, admite efeitos gravosos, uma realidade “triste e muito mais séria”, comparativamente à dos presos políticos, em pessoas dos meios rurais que, depois de uma breve passagem pela prisão em Lisboa, eram “largados” à sua sorte.

Ireneu Barreto, Representante da República e autor do prefácio, felicitou os autores por “em boa hora” terem trazido ao conhecimento de todos “acontecimentos e protagonistas desconhecidos e uma época muitas vezes desvalorizada nos seus contornos e precisão”.

“Com esta obra iluminam a História, a Cultura, o Conhecimento de um período que marcou aqueles que o viveram e que, inevitavelmente, marcará aqueles, que, não o tendo presenciado, têm e devem ter consciência de que a ameaça permanece, com os sinais que no nosso mundo complexo se vão sucedendo”, considerou o juiz conselheiro.

A finalizar, desafiou a Academia a estudar as revoltas da Madeira, dos anos 30 do século passado, “nas suas causas e nos seus objetivos, nos seus contextos e fundamentos, evitando-se interpretações superficiais e muitas vezes desviantes”, no pressuposto de que “o passado, sem esse cuidado, tende a ser imprevisível”.

José Manuel Rodrigues, na qualidade de anfitrião, manifestou-se honrado perante o facto do livro, que , segundo disse, retrata “uma época que desejamos que nunca regresse, mas que não podemos esquecer, ter sido apresentado no Parlamento regional.

O secretário regional do Turismo e Cultura também enalteceu a obra e os autores, destacando a importância de dar a conhecer a quem vive em liberdade todos aqueles que contribuíram para que esta fosse uma realidade.

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