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Artigo de Opinião

Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses

31/03/2022 08:00

Na verdade, podemos até ter uma óptima ideia sobre uma determinada medida ou intervenção ou mudança que poderia ser realizada, mas se não considerarmos os fatores cognitivos, emocionais e comportamentais que determinam a adesão dos indivíduos à mesma, nem soubermos qual a eficácia da sua implementação, estamos sujeitos a que, na prática, essa ideia não produza qualquer resultado aceitável, por mais original e bem-intencionada que seja.

Num mundo em que os recursos são escassos e em que os cidadãos são hiperestimulados, com a consequente diminuição da capacidade de foco, de disponibilidade, de reflexão e de maior vulnerabilidade a notícias falsas e conspirações, termos em conta e incorporarmos nas ações o que nos dizem as ciências do comportamento sobre o que funciona é essencial - não é um luxo, mas uma prioridade. Só assim estamos em condições de assegurar uma maior probabilidade de resultados e uma aplicação eficiente dos recursos. O que na realidade é um luxo ou até uma imprudência será lançarmos medidas sem ter em conta os fatores que contribuem para o seu sucesso e sem termos indicadores dos seus resultados.

Como temos referido, antes de lançarmos uma medida para milhares de pessoas, ou até uma mudança institucional numa determinada organização, não só temos de saber quais os fatores que a fazem funcionar, como também temos de saber, depois da mesma ser aplicada, se teve os efeitos que era suposto ter. Isto é cada vez mais compreendido por diversos governos, instituições e responsáveis, e tem sido entendido por muitas empresas na forma de se otimizarem e alcançarem resultados.

A introdução de uma abordagem às políticas públicas e às mudanças institucionais baseada na evidência gera poupanças de milhões de euros e, noutros casos, favorece mesmo a obtenção de receita pelo Estado, como se encontra bem demonstrado em vários contextos. É, portanto, tempo de ser introduzida ou reforçada a prática das políticas baseadas na evidência em tudo o que for possível, e sobretudo de se incorporarem os princípios das ciências do comportamento quando se encaram as questões, desenham as políticas e implementam as medidas.

É justamente no contexto da necessidade de refletirmos, colocarmos em perspetiva e definirmos vias de ação tendo em vista a melhor forma de respondermos aos desafios societais que enfrentamos como comunidade que assinalamos nesta semana um protocolo entre a Assembleia Legislativa da Região e a Ordem dos Psicólogos Portugueses. Trata-se de uma iniciativa de colaboração institucional que favorece a promoção da literacia em saúde psicológica junto da comunidade, mas também permite a criação de espaços para que se identifique de que forma as políticas públicas e as intervenções podem ser eficazes e eficientes a partir da mobilização do conhecimento da ciência psicológica, de resto como uma primeira iniciativa dedicada a este assunto assinalou.

Onde há políticas públicas há pessoas e onde há pessoas há comportamento. E, por este motivo, para que as políticas públicas funcionem e as mudanças desejadas realmente aconteçam, quer no seu desenho quer na adesão das pessoas, é essencial mobilizarmos e aplicarmos os contributos que as evidências em psicologia nos fornecem.

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