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Artigo de Opinião

Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses

19/08/2021 08:00

Numa altura em que caminhamos para um novo ano escolar, e depois de feitos os balanços e identificadas propostas, num momento em que os profissionais e os estudantes usufruem das merecidas férias, não sem antes terem sido constituídas turmas e horários e acomodadas a infraestrutura humana e material à redução do número de alunos e terem sido tratados os aspetos logísticos e operacionais que garantem o funcionamento normal das instituições, não deixemos de ter em conta a base de toda esta empreitada e o que determina que tudo funcione: globalmente, a importância de climas relacionais positivos e consequentemente promotores da saúde psicológica e, particularmente, no que se refere ao ensino-aprendizagem, a centralidade da relação pedagógica, a qualidade e a diversidade das experiências de ensino-aprendizagem e a prioridade às aprendizagens que realmente importam.

Como sistematicamente a evidência tem revelado, depois de toda a modernização e infraestrutura tecnológica que possa existir, os ambientes que respondem às nossas necessidades psicológicas básicas de autonomia, de competência e de relação continuam a ser aqueles que mais nos motivam e consequentemente predizem o sucesso. E, em contexto letivo, o papel dos professores e a capacidade de estabelecerem relações pedagógicas positivas com os seus alunos continua a ser um fator determinante do sucesso dos alunos.

Um contributo adicional para a perspetiva de que os professores continuam a ter um papel central no sucesso dos alunos é o estudo do think tank Edulog - Investigação e debate em educação, que foi divulgado em junho e que, recorrendo o indicador "valor acrescentado do professor" (que avalia o desempenho de um aluno numa prova nacional antes de ter aulas com um determinado professor e depois numa outra prova nacional, depois de ter trabalhado com o professor) vem reiterar como faz toda a diferença a qualidade e o papel de cada professor, mesmo depois de controladas outras variáveis de natureza individual e socioeconómica. Sabemos que os rankings das escolas, ao não controlarem variáveis socioeconómicas e do contexto de vida dos alunos nos resultados, acabam normalmente a comparar o que não é comparável. É justamente essa a utilidade deste estudo, que analisa o efeito do professor na evolução dos alunos (o antes e depois de um aluno passar por um professor, digamos).

Se voltaremos ou não de máscara no próximo ano letivo pode ser uma pergunta até retórica e de resposta óbvia, face à realidade. Mas, nesta ocasião, é sobretudo uma pergunta que serve para recordar que há muito mais a que devemos prestar atenção. Da mesma maneira que usamos a máscara como forma de proteção de nós e dos outros do contágio, que também não nos esqueçamos do que também contribui para a nossa saúde global e nos protege de problemas de saúde psicológica - desde logo, a qualidade das relações interpessoais que estabelecemos, dos climas relacionais em que nos inserimos, a forma como trabalhamos e o autocuidado que cada um de nós deverá ter.

As necessidades que todos temos não são apenas "físicas", no sentido da proteção de contágios e respetivas potenciais implicações, mas são também psicossociais, incluindo de comunicação, de pertença à comunidade, de competência e de esperança face ao futuro.

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