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Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

21/06/2021 08:00

Hoje, venho falar dos doentes que se encontram em fase terminal. Parece inacreditável, mas quem sofre de uma doença avançada, crónica, prolongada ou incurável é, muitas vezes, negligenciado, discriminado ou mesmo abandonado. Após tratamentos dolorosos, ficam horas, dias, semanas e meses à espera de saber qual o próximo passo a tomar e da confirmação da próxima consulta.

Sim, os médicos não são deuses. Sim, há doenças incuráveis. Mas não podemos esquecer da dignidade humana! Alguns médicos encaram a não cura como um fracasso pessoal. Outros cruzam os braços e mandam o doente para casa, acompanhado de cinco palavras desmoralizantes: "Não há nada a fazer!" Mas não são estas palavras o mais chocante, mas sim a frieza com que muitos o dizem.

Após assistir em primeira mão aos últimos momentos de alguém com cancro, percebi que não é sempre uma questão de dor física. Esta dor não é o sintoma mais frequente nestes casos ou o mais difícil de tratar. O mais difícil é um outro conjunto de sintomas relacionados com a fadiga, com o cansaço, com o emagrecimento e com a falta de força. Muitas vezes, o paciente sofre não de dor física, mas psicológicas, por se considerar um fardo para os outros.

Muito é escondido para debaixo do tapete. E o mais surpreendente é a fase terminal, num momento de despedir-se, a administração hospitalar apenas autoriza a visita de um familiar, sendo este o "escolhido" pelo paciente que se encontra num estado delicado. É DESUMANO, CRUEL e de uma FRIEZA que desconhecia de todo, não deixarem o doente em fase terminal despedir-se dos seus com a sua dignidade, tendo ainda que optar por quem despedir!!! Família, pais, filhos, que querem estar junto dos seus neste momento delicado e que não é permitido, alegando como motivo o COVID-19. Até nisto, o COVID nos roubou… aquele tempo precioso e único para despedirmos dos nossos.

Uma das principais necessidades paliativas em doentes em fase terminal não são apenas físicas, mas também psicológicas. Mas, a referência aos cuidados paliativos é feita tardiamente, outras vezes, não é feita de todo. No SNS, há muita falta de recursos dedicados e formados em cuidados paliativos. Já para não falar da escassez de serviços de cuidados paliativos domiciliários.

A maioria das pessoas não tem uma assistência diferenciada e qualificada no sofrimento associado a doença terminal, sendo tratados como aqueles com o cancro da mama, da próstata, do pulmão… simples números estatísticos.

Não, não é apressar a realidade com a aprovação da eutanásia, empurrando as pessoas para essa única solução. É sim, apressarmos, com passos firmes para o desenvolvimento de uma preparação de profissionais a dar outro tipo de resposta, uma intervenção qualificada em unidades de cuidados paliativos.

Um Estado que não garante a 100% acesso aos cuidados paliativos, independentemente da capacidade financeira - porque sabemos, realisticamente, que hoje em dia, tudo depende disso - é um Estado que se demitiu do seu papel de cuidar dos seus cidadãos até ao fim da sua vida e não admite que não é capaz de o fazer.

A vida é um dom e é o mais maravilhoso que nos é concedido!

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