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Artigo de Opinião

Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses

11/11/2021 08:01

Não "estar bem" também faz parte da vivência humana; estar "sempre bem" é provavelmente mais anómalo. Esta ideia é especialmente relevante numa realidade que, por exemplo, inclui a dinâmica das redes sociais, em que frequentemente não se sentir bem ou não estar sempre num estado de espírito muito positivo e otimista pode ser visto como uma espécie de fraqueza. Uma ideia que pode ser perigosa e tem consequências para a forma como são encaradas as questões de saúde mental, incluindo ao nível da desvalorização de determinados pensamentos, sentimentos e comportamentos que têm significado.

A evidência revela que, de facto, determinadas atitudes que poderíamos designar de "positivas" face à adversidade são importantes e estão associadas a um conjunto de resultados favoráveis. A forma como são encaradas as situações e particularmente os eventos adversos é central para a capacidade de os mesmos serem ultrapassados. Mas manter uma atitude positiva face à realidade e à adversidade não significa ignorar ou suprimir os sentimentos mais dolorosos ou "negativos". Evitar ou reprimir a vivência destes sentimentos apenas os torna mais significativos, com consequências nefastas em vários níveis. Fingir que não se entristece, ou reprimir a zanga, a revolta ou a desilusão, por exemplo, não só é causador de frustração e de mal-estar superior, num efeito de ricochete, como também torna os indivíduos menos resilientes e, já agora, com quem poderá ser particularmente difícil lidar.

Na verdade, o leque de emoções que caracteriza o ser humano é para ser experienciado na sua amplitude. O grande desafio e aprendizagem é justamente a capacidade de processar as diversas emoções, boas ou más, positivas ou negativas, já que isso torna os indivíduos mais resilientes e capazes de interagir com os outros e com o mundo. E isso começa logo na infância e nas práticas parentais e educativas. Não sendo possível manter a condição artificial de um estado permanente de boa disposição e felicidade, é assim importante a aceitação e a assimilação das diversas emoções, positivas ou negativas, satisfatórias ou dolorosas. Isso expressa a riqueza e faz parte do desenvolvimento humano, e é essencial para que seja dado sentido à experiência.

É inevitável que "não estar ok" venha acontecer na nossa vida, com maior ou menor frequência, intensidade ou duração. Em muitos casos, o não estar ok assume uma dimensão muito significativa - não esqueçamos inclusivamente que um quarto da população experiencia uma situação de sofrimento psicológico, expresso numa perturbação psicológica. E, portanto, se o "não estar ok" é uma inevitabilidade da vida, que saibamos encarar e assimilar essa condição humana, bem como prevenir que o "não estar ok" evolua para uma dimensão mais significativa. E, quando tal ocorre, tratemos de procurar ajuda nos sítios certos.

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