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Artigo de Opinião

10/08/2021 08:00

Simone Biles, estrela americana da ginástica artística feminina, assumiu publicamente a dificuldade em ultrapassar a pressão psicológica, acusando cansaço neste mundo da alta competição e da desproteção que afeta alguns e algumas jovens desportistas de elite.

Tom Daley, britânico, medalha de ouro em saltos para a água sincronizados, ficou famoso não só pelo título olímpico, mas também porque decidiu fazer o que gosta, tricotar, enquanto apoiava as suas colegas da equipa britânica de saltos para a água. Não se incomodou com a curiosidade das câmaras e até aproveitou para mostrar o casaco "olímpico" que já tinha feito, angariando verbas para uma causa social.

Laurel Hubbard, halterofilista da Nova Zelândia, foi a primeira atleta transgénero a participar nuns JO.

Kristina Tsimanovskaya, bielorrussa, atreveu-se a criticar a equipa de treinadores da sua seleção e teve de pedir ajuda ao Comité Olímpico Internacional (COI), para escapar às autoridades do seu país. Conseguiu asilo político na Polónia.

Pedro Pichardo, português que ganhou a medalha de ouro no triplo salto, fugiu de Cuba em 2017 e escolheu Portugal como o seu país. A sua vitória em Tóquio, com as cores da nossa bandeira, incendiou as redes sociais que se dividiram quanto ao nível da sua portugalidade, levando mesmo Marcelo Rebelo de Sousa a alertar para o facto de a identidade portuguesa ser feita de várias etnias e origens, fazendo vibrar em nós um "orgulho português não xenófobo, não racista, não limitativo, mas abrangente."

O COI manteve nestes JO a "Equipa Olímpica de Desportistas Refugiados". Dá visibilidade a este problema pela segunda vez e permite que estes jovens consigam bolsas de estudo desportivas que lhes abrirão portas legais em diversas nações, de forma a poderem explorar os seus talentos, a par de poderem usufruir de uma vida segura e estável, coisa que a guerra e as perseguições nos seus países de origem não lhes permitem ter. Em 2020 foram 29 atletas de 11 países, em 12 modalidades desportivas.

José Saramago alertou-nos para os perigos que a ausência de participação política em sociedades democráticas representa. Escreveu sobre o risco que o abandono da cidadania implica, limitando-a ao momento do voto, o que leva ao esvaziamento do sistema democrático e ao afastamento das pessoas da intervenção cívica.

Nos Jogos Olímpicos conseguimos perceber que, cada vez mais há desportistas de alta competição que vivem para lá da preocupação dos bons resultados. Estudam, informam-se e não viram as costas ao ativismo olímpico ou desportivo, aproveitando a sua visibilidade para intervirem civicamente e impactarem grandes causas de direitos humanos.

"Não somos entretenimento, somos humanos", disse Simone Biles. É verdade. Ela lembrou-nos que quem está no desporto de alta competição não é uma máquina, embora se tente superar diariamente, conseguindo dominar de uma forma harmoniosa e eficaz o seu corpo e obtendo resultados espantosos.

Nestes Jogos, Portugal teve 4 medalhas em Tóquio: 1 de ouro, 1 de prata e 2 de bronze. Obrigada, Pedro Pichardo, Patrícia Mamona, Jorge Fonseca e Fernando Pimenta. Obrigada a quem trouxe diplomas olímpicos e a quem conseguiu apurar-se para Tóquio 2020, dando o seu melhor. São grandes! R-E-S-P-E-C-T!!!

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