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Artigo de Opinião

Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses

4/02/2021 08:06

Temos desde logo de considerar o efeito de fadiga da pandemia e a redução dos recursos que as pessoas têm para lidar com a situação. Se, numa fase precoce, existia uma mobilização e a crença de que se iria ultrapassar o problema, o prolongar da pandemia e a deterioração das condições psicossociais deixam as pessoas em piores condições para responder. Uma vida deteriorada, o cansaço ou um problema de saúde psicológica são determinantes para a nossa capacidade de lidar com os desafios, para mais quando as nossas decisões são muito influenciadas pelas emoções e não são tomadas de forma estritamente racional.

Não podemos também esquecer o princípio de que a exposição leva à habituação. O impacto da informação sobre o número de casos ou óbitos tenderá a reduzir-se à medida que lhe estamos continuamente expostos. Aliás, se pensarmos que a generalidade das medidas tomadas em janeiro era a mesma que as tomadas em março de 2020, podemos verificar por aqui os efeitos da habituação e o efeito de dessensibilização que existe, quer em relação ao dados trágicos da pandemia, quer sobre a exposição ao maior perigo atual. Acresce por fim a questão da avaliação do risco e o otimismo irrealista. A coexistência da noção de que situação é grave com a crença de que as coisas más têm maior probabilidade de acontecer aos outros faz-nos subestimar a probabilidade de infeção e desvalorizar comportamentos que favorecem a saúde pública, no quadro de uma "habituação ao perigo".

O que é que ajuda a contrariar estes efeitos, além da responsabilidade individual? Desde logo, a comunicação e os recursos disponibilizados às pessoas. São mais eficazes mensagens claras e consistentes, num fio condutor que foca as vantagens individuais e sociais, e desenhadas para o grupo populacional a que se destinam. Pelo contrário, a indução do medo ou foco na culpabilização e a falta de serenidade podem levar a comportamentos defensivos e de evitamento. Num mar de dados soltos na internet, sequências de diretos à porta de hospitais e declarações alarmistas, é também importante a qualidade, e não a quantidade, da informação que consumimos. E naturalmente, é essencial combater teorias da conspiração, desinformação e notícias falsas, que apenas contribuem para ambientes caóticos.

Por fim, temos de reconhecer que grupos populacionais diferentes usam meios e processam mensagens de forma diferente. Por exemplo, o conteúdo e os locais (incluindo o tipo de redes sociais) onde é divulgada a mensagem destinada a adolescentes não podem ser os mesmos, comparativamente a outros grupos populacionais.

Após meses de pandemia e com o desgaste atual não é fácil a mobilização. É justamente por isso que a ação deve ser ajustada a essa realidade, à forma como os seres humanos funcionam e sobretudo deve cada vez mais assegurar que as pessoas podem ter o apoio psicossocial de que necessitam e o acesso a serviços de saúde mental, que são determinantes para a sua capacidade de lidarem com a realidade e enfrentarem os desafios da sua vida - incluindo terem os comportamentos pró-sociais e promotores da saúde.

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