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Artigo de Opinião

Engenheiro

9/11/2023 08:00

Ao longo de doze episódios o autor percorre as duas ilhas deste nosso atlântico arquipélago e mostra-nos uma ilha, ou melhor, as duas ilhas, distantes no tempo, distantes da nossa memória e muito longe do nosso acomodado dia a dia. O que será de nós se não conhecermos o nosso passado, a nossa história, a nossa epopeia enquanto povoadores de um território que tem tanto de belo como de madrasto. São as histórias, os locais, os sítios e as gentes de uma ilha esquecida que, de uma forma simples e com um estilo muito próprio e apropriado o Eng. Rocha da Silva desvenda. Uma ilha ultrapassada pelas vias rápidas, obliterada pela internet, cancelada pelas redes sociais, ostracizada pela vida rápida e comprimida pelas facilidades dos novos tempos. Na minha maneira de ver, vivemos infelizmente numa sociedade assolada por uma amnésia colectiva de um passado que queremos para trás, esquecendo muitas vezes o que nos deveria orgulhar e inspirar.

Os vários programas são uma verdadeira ode ao povo madeirense e à forma heroica como domou este hostil habitat. Desde o calvário dos degraus do Espigão e de uma vida isolada e assolada pela necessidade de alguém que não sabia ler, passando por gente nova que descobre sítios antigos, não esquecendo a rota da cal e das tormentas dos homens que extraiam a pedra branca. A vida do mar de um punhado de corajosos homens do Norte que içavam os barcos pela rocha, a importância de uma freguesia que a estrada retirou, a redescoberta e o carinho pelas memórias da infância. Os locais inóspitos e esquecidos que outrora geraram riqueza e alimento, os lugares dos lagares esculpidos na rocha e dos fotógrafos apaixonados, as levadas e os levadeiros, os morgados e os desgraçados. Em resumo, a nossa terra apresentada de forma profunda e quase sentimental, por quem conhece e quer dar a conhecer.

O programa oferece filmagens magistrais e quase cinematográficas, brindando-nos com perspetivas das paisagens da nossa terra, outrora privilégio apenas de algumas aves mais afortunadas. Para ligar os lugares e as vivências ouvimos testemunhos em discurso directo, breves conversas de locais sobre os locais, explicações de personagens da vida real. Falam com sentimento sobre coisas simples, da terra, do mar, contam histórias de outros tempos e de um lugar que parece não ser este. A abordagem antropológica cativa e desperta, deixando-nos a pensar no que seria de nós se não fossem estes homens e mulheres que moldaram à força de braços estas nossas ilhas. O denominador comum de todos os lugares e das paisagens filmadas é o trabalho, o esforço, a firmeza e a tenacidade. O engenho deste nosso povo antigo na procura de soluções é desconcertante, a carência assim o obrigava. Tudo tinha de ser "acartado", nada estava à mão, e havia que "deitar a mão", a entreajuda e as trocas de ofícios eram vitais para ultrapassar as dificuldades e as agruras. Os mais novos, que não tiveram a sorte de ter um bocado de "campo" sem piscina e que pensam que "burage" é um prato francês chique, deveriam assistir a todos os doze episódios, é informação vital, é a sua história. As mãos calosas que herdamos dos nossos antepassados, são um património genético do qual nos devemos orgulhar. Eu tenho origens em São Jorge, a minha família era conhecida como os Ferreirinhos e lembro-me bem das grandes e rudes mãos do meu avô paterno João Joaquim.

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