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Artigo de Opinião

Gestor do Europe Direct Madeira

15/09/2022 08:00

Eram, de facto, outros tempos: os automóveis ocupavam um lugar de destaque na vida das pessoas e o sentido de preservação estava, então, bem apurado. Era uma espécie de objecto de culto que não servia apenas para nos deslocarmos e que davam o mote para longos debates numa qualquer mesa de café.

Hoje, a realidade é incomparavelmente distinta. Os carros multiplicam-se e ditam tendências no ordenamento do território e na transformação da paisagem, marcada pelas vias de comunicação, engenhosamente construídas para as necessidades crescentes de deslocação, permitindo-nos ir mais longe, mais rápido, com mais conforto e segurança. As conversas de esplanada também se adaptaram: o blá blá blá em torno das acelerações da máquina deu lugar a novas reflexões em torno da autonomia das baterias ou do tamanho do ecrã TFT. O novo cool já não é a capacidade de ir dos 0 aos 100km/h em X segundos, muito menos pavonear-se com os consumos despropositados do motor com X cavalos e X quilómetros de velocidade máxima. "Eco", "verde" e "poupança", são as novas expressões da moda que estão para ficar, ou não tivéssemos pela frente questões tão importantes como as alterações climáticas e a transição energética, entre outras.

Mas o desafio da (i)mobilidade passa também pelo aproximar da casa ao trabalho, contrariando uma tendência comum das últimas décadas que afugentou a função residencial dos núcleos urbanos, onde encontramos a maioria dos empregos. Geraram-se movimentos pendulares com ciclos de concentração automóvel enormes e com estes, transtornos à nossa qualidade de vida, em matéria de qualidade do ar e ao nível da sanidade mental que se esvaia em cada ciclo de entrada ou saída da cidade.

Paralelamente, "resolvida" que está a transição energética dos combustíveis fósseis para os eléctricos (ainda que o hidrogénio esteja longe de ser uma carta fora do baralho), convém recordar que, independentemente da fonte de locomoção, um carro será sempre um carro, com tudo o que isso implica em matéria de ocupação de espaço e necessidades de parqueamento. E nesta equação entram as bicicletas, as trotinetes e os ciclomotores, considerando apenas o transporte particular, como é óbvio. A transição não será fácil: os condutores argumentarão sempre a necessidade de manter o seu espaço e até conquistar mais algum, na ilusão que as deslocações diárias continuarão ser feitas da forma que sempre fizeram. Contudo, a partilha das vias de comunicação com outros atores é inevitável, tal como terá de ser o reforço do uso do transporte público em detrimento do particular, já para não falar da legítima pretensão dos peões em verem o seu espaço ampliado.

Amanhã, inicia-se mais uma Semana Europeia da Mobilidade (SEM) e, com ela, renovados apelos para a mudança de pensamento e comportamento. Sair da zona de conforto e olhar para as deslocações diárias com outros olhos (quanto mais não seja, pelo preço exorbitante dos combustíveis) é, pois, o grande desafio que se nos coloca. Nesse sentido, toda a partilha de experiências que a SEM possibilita é, sem sombra de dúvidas, uma grande ajuda. Não porque se possa fazer "copy-paste" de modelos usados noutras paragens para resolver integralmente os nossos problemas, mas para recolhermos ideias e inspirarmo-nos em boas práticas há muito utilizadas por essa Europa fora.

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