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Artigo de Opinião

O ESPÍRITO DOS TEMPOS

6/10/2023 08:00

Miguel Albuquerque esteve bem: resolveu a necessidade de estabilidade parlamentar e, na passada, fechou o governo estancando os delírios, a prosa dos politólogos e a intriga doméstica. É a diferença entre o pragmático e o lírico: o primeiro age, o segundo contempla. E, na consumação do poder e da autoridade, a certeza de que por vezes um homem encontra o seu destino no caminho que tomou para o evitar.

Em ambos os momentos havia várias opções. A estabilidade podia ser obtida com mais do que um partido. O governo podia ser feito e constituído com variadíssimas soluções.

No primeiro caso, a opção incidiu no PAN porque há pontos em comum e porque outros não inspiravam confiança. Com absoluta naturalidade, os derrotados das eleições ficaram possessos pela rapidez do processo, que é o mesmo que dizer, que se sentiram esmagados pela sua insignificância conjuntural. É o que há. Engrenada, a máquina não pára porque o poder tem horror ao vazio. Quem ainda não percebeu o básico, não está aqui a fazer nada.

Quanto ao governo, a história é diferente porque cada cabeça sua sentença. Porém, houve sensatez quando se trouxe gente nova, se reduziu a sua dimensão, se diminuiu o protagonismo do partido mais pequeno e se mostrou atenção aos sinais dados pelo eleitorado. Agora falta ver o restante elenco, os intermédios, onde, quanto a mim, também há necessidade de mexer e de colocar um ponto final nos acomodados, nos incompetentes e nos que simplesmente desaparecem no período eleitoral.

O PSD tem de recuperar votos e há que ir buscá-los aos jovens, aos funcionários públicos defenestrados pelos congelamentos e deterioração da sua condição, à classe média trabalhadora, mas esmagada pela inflação, juros e impostos. O resto tem de ser a social-democracia a funcionar: correcção das injustiças sociais, distribuição justa dos apoios, contribuição adequada de pessoas e empresas, resolução de problemas estruturais, nomeadamente do acesso à habitação.

Por fim, se é para recomeçar, que se siga à letra o princípio maquiavélico de se fazer o mal todo de uma vez e o bem aos poucos. Porque, e como já uma vez aqui escrevi, é imperioso largar lastro para fazer o balão subir. Pesos mortos só atrapalham. E ninguém vai dar pela falta.

O CANDIDATO PART-TIME

A política dificilmente surpreende. Veja-se o caso das eleições regionais onde toda a gente ganhou, com exceção da coligação que teve mais do dobro dos votos e dos mandatos que o segundo classificado. Sarcasmo à parte, neste mundo estranho, todos fizeram festa: uns por regressarem, outros por entrarem, uns porque aumentaram os mandatos, outros porque perderam muitos mandatos. Surreal mesmo só os que exigiram a demissão do vencedor enquanto lavavam a sua condição de vencido. É assim o paraíso socialista, um cenário de negação onde as responsabilidades morrem solteiras, enquanto o(s) titereiro(s) puxa(m) os cordelinhos das marionetes e a elite aplaude.

Mas quando todos esperavam uma novidade, um novo capítulo, um acertar de agulhas e de compromissos entre as hostes, eis que surge um regresso. O regresso, no fundo, daquele que nunca foi, daquele que, em conluio, orquestrou a teia que prendeu Sérgio Gonçalves a uma lista que não era dele e a um destino traçado.

Já noutro tempo, Cafôfo também foi candidato a presidente do governo enquanto exercia o cargo de presidente da câmara. Não correu bem porque ele geria em part-time e porque as pessoas perceberam a tempo a trama e o trampolim. Agora anuncia-se novamente candidato a presidente do governo enquanto é secretário de estado e viaja pelo mundo a prometer aos emigrantes coisas que nunca vão acontecer. Como é possível pensar que se pode liderar a oposição na Madeira à distância, em reuniões por zoom e em conversas por WhatsApp? Esta soberba feita "causa de vida", ilustra o desprezo pelos madeirenses e o que ele pensa sobre nós e sobre a Autonomia. Não é a primeira fuga e não será a última. Hegel avisou-nos para a possibilidade de repetição na história, mas foi Marx quem percebeu melhor o alcance da sentença. A história é, primeiro, tragédia. Depois, repetindo-se, é farsa.

Aliás, mal o anúncio se fez em parangonas de jornal, as águas socialistas separaram-se de forma límpida. De um lado as vítimas, os que já foram abusados por ele. Do outro lado os fanáticos e uma espécie de viúvas de Jorge Tadeu, os primeiros a saudar tão proselitista candidatura. Só tolos caem numa mesma esparrela.

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