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Artigo de Opinião

HISTÓRIAS DA MINHA HISTÓRIA

5/02/2021 08:07

Surpreende-me a reação das pessoas não querem votar. Argumentam — que é sempre a mesma coisa; que não vale a pena, porque nada muda; que os políticos são todos corruptos. Concordo que há corrupção; alguma que vamos descobrindo outra bem encapotada longe do nosso conhecimento; e também muita corrupçãozinha que ninguém reconhece: a do "desenrasca-me aí…", "dá-lhe uma palavrinha", "tenho um amigo que me deve um favorzito…", etc. Começa pequenina e sobe até o topo da escala social. Estarão os que se manifestam contra a corrupção conscientes que a ausência da democracia só contribuirá para agravamento desse tipo de atitudes, com reflexos gravosos para quase todos nós? Demitir-se de votar é negligenciar a democracia.

Mas talvez haja quem goste mesmo de ter um ditador a comandá-lo. Alguém que estabeleça regras de para onde ir, o que fazer, como e a que hora. A sociedade está infantilizada. Senão vejamos as atitudes que abundam nesta situação pandémica. O governo e as entidades de saúde não proibiram os encontros natalícios — provavelmente porque sabiam que não seriam obedecidos — recomendaram, no entanto, a restrição dos grupos familiares. Ora, a lógica de muitos foi: não é proibido, toca a reunir! E vieram do estrangeiro, e abraçaram-se, e mataram o porco, e provaram o licor, e foram à poncha, e jogaram a bisca da Festa. O ano começou com os infetados por COVID a aumentar. Os bares passaram a fechar às seis. Resultado: — pois, vamos mais cedo — disseram e fizeram … e fazem. É surpreendente o número de naturais e estrangeiros à volta das mesas, em alegre convívio. Depois, há os fumadores. À porta dos estabelecimentos, à mesa dos cafés ou nas suas imediações, amigos e colegas de trabalho, com a máscara descaída sobre o queixo, conversam, a curtos centímetros de distância, bafejando-se mutuamente com baforadas de fumo. Não terão consciência dos riscos do seu comportamento? Será preciso que os proíbam?

Nos primeiros 19 dias de 2021 morreram 11.054 pessoas em Portugal (dados do SICO - Ministério da Saúde, conforme publicados às 14 horas de 20/1), quando a média dos cinco anos anteriores foi de 7.511 no mesmo período. As acusações de incompetência às lideranças, políticas e sanitárias, ao Estado, aos hospitais, choveram no já habitual atirar de culpas aos outros, como se tudo não começasse também em cada um de nós e na forma como nos protegemos.

Queremos voltar ao normal, de onde alguns ainda não saíram, mas ele tarda em chegar e olhamos o futuro sem conseguir perspetivar o que nos trará.

Para já, a realidade que vivemos obriga-nos a ficar em casa. Há quem não se conforme com tal. Os estabelecimentos comerciais encerram cedo e, aos fins de semana, ainda mais. Os parques infantis enchem-se de meninos, enquanto os pais gozam a esplanada ali perto, todos renitentes no regresso ao espaço doméstico, para um convívio que soa a desusado porque há muito que o arranjo que vínhamos fazendo da nossa sociedade não o permitia. Pais trabalhavam até tarde, filhos ficavam entregues em ATL, treinos desportivos e atividades culturais. Uns e outros conviviam com amigos ou deambulavam pelas superfícies comerciais e só tarde se encontravam, por um tempo breve e intensamente ocupado por refeições, estudo ou preparação para o dia seguinte. A convivência — dividida ainda com televisão, computadores e outros apetrechos eletrónicos — entre os membros da família ficava reduzida a quase nada. De repente o tempo de estar juntos parece excessivo. Passar tempo em família é algo que teremos de reaprender.

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