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Artigo de Opinião

Prometeu ele, dizia eu, regredir. E cumpriu, entregou e empurrou goela abaixo. A da justamente agradecida plebe, claro. Quem queria reversão, teve-a! Devolveu, por exemplo, ao contribuinte nacional a felicidade de sustentar, em lufadas de dinheiro fresco, a companhia aérea que serve, primorosamente, a cidade de Lisboa. O resto do país agradece.

O alívio da semana de trabalho nas urgências hospitalares foi outra das conquistas de António Costa, O Pio. Isto de ter urgências quando o cidadão quer tem de acabar. Há que ter juízo. Programem-se as febres, as quedas e a deglutição do desconhecido aos miúdos, que o hospital não é a casa da Mãe Joana. Empurrem-se os nascituros de volta ao quentinho maternal até que colaborem com a programação das maternidades públicas. Eduque-se logo desde o útero, até para não sobrecarregar a escola pública, apesar da sua superior eficiência, com a lição mais importante de todas: obedece.

Também era preciso acabar com a bafienta mania de dizer, directamente, o que se quer dizer e fazer. A superior arte de fazer política exige que se prometa o que não se quer fazer — não apetece —, que se anuncie o que não se fez — nem vai fazer — e que se aplique à oposição os epítetos que merecemos, e a nós os méritos que nem sabemos de onde caíram. No fundo, a honestidade é coisa de burguês, não nos esqueçamos. Quem quer manter o poder pelo poder tem de fazer o mínimo possível, parecendo fazer o máximo. Para a manutenção do poder é mais importante parecer do que ser, nem que para tal seja preciso distribuir o dinheiro alheio pelas contas de quem vota. No fim de contas o país precisa de António Costa, O Desejado. É uma questão de inabalável patriotismo que se mantenha na cadeira, nem que seja à custa de muito cuspo, muita banha-de-cobra e pouco a nenhum movimento. O próprio Presidente da República, tão carinhoso quanto temeroso, nem permite (alvíssaras!) que António Costa, O Imprescindível, sonhe com os voos europeus (por uma companhia de baixo custo estrangeira, para não sobrecarregar a de Lisboa) que o seduzem e tentam para que cumpra o seu indubitável desígnio histórico além fronteiras.

Entretanto o cidadão teme, treme e vive de ansiolíticos. Farta-se, enerva-se e manifesta-se sob a sapiente asa sindical. Depois recebe. Não importa o quê: António Costa, O Seráfico, dá e o cidadão comove-se e move-se até a urna para pôr a cruz em quem lhe deu qualquer coisinha — sem verificar, antes, o bolso de trás, de onde lhe foi tirado mais do que lhe foi dado.

Parafraseando, abusivamente, O Poeta, "Descalço vai em frente/ O povo pelo escuro/ Vai contente, nada seguro".

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