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Artigo de Opinião

Médico-Dentista

16/07/2023 08:00

Estava longe de imaginar que, quase 6 anos depois do último nascimento, fosse passar por isto. Não sei se são as hormonas. Se a idade. Se outra coisa qualquer. Sei é que cada vez que olho para eles parece que entro em burnout. Malditas férias escolares.

Sim, porque o primeiro semestre do ano até se aguenta, mas chegados a meados de julho, e com filhos em idade escolar, muitos pais já tiveram um piripaque qualquer. Se não tiveram, vão ter e não há-de faltar muito. Acreditem! É que, acabadas as aulas, o que é que fazemos com os pequenos?! Levá-los para a clínica está fora de hipótese. Já tentei, mas tive que interromper as consultas 52 vezes. "Faltam muitos?". "Está quase?". "Já podemos ir embora?". Isto de 10 em 10 segundos… Deixá-los sozinhos em casa também não me parece boa ideia. Na casa da avó? É uma hipótese, mas só depois das 17h… Por duas razões: 1) a mulher não merece tamanho castigo. 2) está reformada, é certo, mas o cabelo, as unhas, as sobrancelhas e o buço não! Sobra então um qualquer ATL. Pois bem. O problema é que no ano passado eu decidi, de forma democrática, perguntar-lhes se se queriam inscrever. Disseram que não, sem pensar muito. Porém, chegados à altura, mudaram de opinião! Já queriam… Só que já não havia era vaga.

Como gosto muito pouco de cair no mesmo erro duas vezes, desta feita joguei pelo seguro! Para não correr riscos, não os auscultei. Alistei-os e pronto.

Conclusão, saíram da escola numa sexta. Na segunda seguinte entraram no centro de Actividades de Tempos Livres. Até à data estamos todos felizes… Um dia levam banho de mangueira. No outro andam de patins. Um dia vão à praia. No outro fazem escalada. Um dia jogam matraquilhos. No outro fazem capoeira. Uma canseira! Chegam a casa exaustos. No entanto, na manhã seguinte voltam para lá oferecendo menos resistência do que para as aulas. Talvez por isso, um destes dias, dei por mim a pensar no quão importante era haver um ATL para pais de meia idade. Sim, porque para os velhos também já existe. Chama-se lar. Lá, também se joga. Joga-se à bisca. Joga-se xadrez. Joga-se até ao jogo da memória… Neste, quem se lembrar onde deixou o comando da televisão, tem direito a escolher o canal. No resto do tempo, babam-se! Faz parte…

Mas e quando já não somos miúdos e ainda não entramos na 3.ª idade? O que têm para nos oferecer? Só trabalho?! Eu não sei vocês, mas eu começo a achar que se romantizou demasiado o excesso de trabalho e chegámos ao ponto de provarmos um sentimento de culpa, sempre e quando tiramos algum tempo para não fazermos nenhum? Juro que sinto isso. Não sei se é pelo meu pai me estar sempre a perguntar se estou a "mamar nei beiças", ainda que possam ser umas 18h de um domingo qualquer… Ou se é apenas a sensação de que a sociedade nos impõe como certo o facto de termos que trabalhar até ficarmos todos xexés! Até queimarmos os fusíveis? Nos dar a louca? Fritar o miolo? Então aí sim…

Mas não! Não acho bem. E até digo mais. Acho mal. Porque raio é que só os únicos que (já ou ainda) estão no activo é que não têm direito a ter um sítio onde possam ser deixados aos cuidados de terceiros? Vá, as urgências do Hospital Dr Nélio Mendonça não contam. Para ficarmos jogados num canto com uma pulseira, mais vale deixarmos isso para quando formos para a morgue. Referia-me antes a algum sítio onde tivéssemos direito a sei lá, levar uma massagem a 8 mãos, que começasse na cabeça e acabasse nos pés. Que nos lessem as notícias. Que nos cantassem ao ouvido. Que nos dessem de comer coisas boas de 3 em 3 horas. No final do dia, nos pusessem a assistir a uma palestra de uma coach de alta performance. Até podia ser aquela que fez o Éder marcar o golo que valeu um Europeu e, à conta disso, anda a vender motivação em módulos de 7 mil euros! É que só de saber que no dia seguinte voltamos à rotina… Bate cá um desânimo que nem vos digo nada.

Sem conseguir dizer alguma coisa fiquei também ontem quando a minha tia me enviou uma fotografia. Fui ver e referia-se ao dia do homem. Não fazia ideia que isso existia! Pelos vistos, de 1999 para cá que se comemora, em diversos países, a 19 de novembro. No Brasil foi ontem. Tanto numa data como noutra, não festejei! E não tenciono fazê-lo. Mas lá que fiquei a pensar no Carlos Costa, fiquei! Aquel ser de luz é sortude. Para além dos aniversários, deve andar sempre em festas…

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