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Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

11/09/2023 08:00

Pois bem, o beijo não passou despercebido, gerando reações divergentes do público em geral. Desde este acontecimento, tem corrido rios de tinta sobre o assunto: vídeos de vários ângulos, conferências de imprensa, redes sociais ao rubro, pedidos de demissão, greves de fome, enfim… este assunto dura, dura e dura.

Nestes últimos dias, ouvi de tudo sobre o assunto. Vários partidos, escritores, pessoas comuns até ao primeiro-ministro espanhol e a ONU, discutem sobre o tema e não faltam censuras à conduta de Luís Rubiales, quando Espanha se sagrou campeã de forma inédita. Comentários que vão desde o assédio sexual aos direitos das mulheres.

Antes de expressar a minha opinião sobre o tema, saliento que sou defensora dos direitos das mulheres, da importância de igualdade de géneros e orgulho-me de todas as nossas lutas e conquitas até aos dias de hoje.

Relativamente à história do beijo, no meu ponto de vista, está tudo a criar um grande alarido. Trata-se apenas de um beijo de euforia, de comemoração, de alegria, num momento de impulso. Nada mais. Atenção, não estou a dizer com isto que todos os impulsos são desculpáveis, nem estou a dizer que a jogadora não se sinta lesada pela situação. Nada disso. O que quero dizer é que alguém que queira abusar intencionalmente de alguém, não o faz publicamente, à frente de milhões de pessoas. E alguém que se sente lesado ou ofendido com alguém, não brinca com a mesma situação momentos depois.

Sim, há a questão do poder hierárquico, de não ter sido consentido, de ser uma mulher, do assédio sexual, enfim… várias são as questões e as opiniões despoletadas. Compreendo todos os pontos de vista. Mas cada caso é um caso. E neste caso específico, o massacre mediático e a proporção que está a levar, é totalmente descabido. No meio da euforia, aquilo não passou de um impulso que deveria ter sido controlado, mas que não tem a conotação que todos lhe querem dar.

Acho inacreditável o descalabro que isto está a levar. Quer dizer, quando uma mulher é violada às quatro da manhã em Lisboa, passam uma nota de rodapé no Correio da Manhã e ninguém fala disso. Mas um beijo num momento eufórico de futebol é notícia em todos os canais televisivos. Quantas coisas importantes que deveriam ser discutidas, principalmente, para a vida das mulheres, do que este beijo? Como por exemplo, o perigo que as mulheres correm quando não têm maternidades abertas. Ou a preocupação que as mulheres têm quando não conseguem vagas em creches. Ou quando não arranjam emprego porque são mães. Ou quando têm de sacrificar as suas carreiras em prol das suas famílias. Ou até mesmo quando são violentadas pelos seus cônjuges e não há justiça que garanta as suas seguranças.

Estas são as questões fulcrais que deveriam ser discutidas e analisadas para a defesa de nós mulheres e dos nossos direitos. E não um simples beijo!

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