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Artigo de Opinião

Economista

23/04/2022 08:01

O rei trancou-a numa torre e exigiu que ela fiasse toda a palha em ouro, caso contrário matava-a. A rapariga quase que perdia a esperança, eis que, aparece um duende na sua cela que lhe promete ajudar em troca do seu filho primogénito. No seu desespero, a rapariga aceita. O rei ficou impressionadíssimo com o "dom" da rapariga e decide-se casar com ela, mas quando nasce o primeiro filho do casal, o duende regressa para reclamar o seu pagamento. Contudo, perante o pranto dela, o duende aceita uma outra troca: a rainha poderia ficar com a criança se ela conseguisse adivinhar o nome dele no prazo de três dias. No primeiro e no segundo dia, ela falhou, mas antes do terceiro encontro, o seu mensageiro encontrou o esconderijo do duende e ouve-o a saltar à volta de uma fogueira, cantando: "Oh que bom é, que ninguém sabe que o meu nome é Rumpelstilzchen". Quando o duende foi encontrar-se com a rainha, esta revela o nome e Rumpelstilzchen perde a sua aposta. Mas ele perde mais que isso. Perde a sua compostura e razão, pois, cego de raiva, bate os pés com tanta força que se partiu em dois. Desapareceu numa nuvem de ira.

Atualmente, estamos a assistir em direto a esta irracionalidade autodestrutiva no âmbito partidário. Para além da dificuldade em comunicar adequadamente o seu posicionamento inicial face à invasão russa da Ucrânia, acresce agora ao PCP disparar tiro após tiro nos próprios pés com cada declaração do partido. Primeiro com o seu voto contra a realização da sessão solene com a participação do presidente ucraniano, depois com a ostensiva ausência do plenário dos seis deputados comunistas durante o discurso de Zelensky e posteriormente com a forma como a líder parlamentar do PCP se insurgiu sobre o tal discurso que se recusou ouvir, devido ao "insulto" (sic) de Zelensky ter comparado a luta pela democracia ucraniana com a luta da Revolução de Abril em Portugal. A nuvem de ira começa a envolver o PCP cada vez mais, numa espiral que não faz justiça ao legado do PCP na luta contra a ditadura fascista em Portugal. Mas algo ficou preso em 1989. Quando o dogma ultrapassa a realidade da sociedade, é tempo de rever o dogma e não só de questionar a sociedade.

Contudo, há que dizer toda a verdade: melhor não esteve a Iniciativa Liberal quando os seus deputados imitaram o PCP e abandonaram o plenário aquando da intervenção subsequente do deputado comunista no ponto seguinte dos trabalhos no plenário.

A este ritmo, o parlamento vai se transformar num mero palco de comícios individuais dos grupos parlamentares, sozinhos, mudos e cegos. Uma praça de peixe onde ganha quem berrar mais alto, com as promessas mais caras e populistas. Tudo aquilo que não devia ser. Pois o parlamento deveria ser antes um fórum de discussão entre os iguais eleitos pelo povo, que buscam um consenso democrático na feitura de políticas e leis. Já vimos os efeitos do excesso de radicalização e polarização em demasiados parlamentos mundo fora, e não há necessidade nenhuma para Portugal ignorar as más lições de outros países.

No meu frigorífico tenho um íman que comprei na livraria parlamentar de São Bento. Tem uma frase sonante do parlamentar do liberalismo do século XIX Passos Manuel: "Se não pode mudar de opinião, então não serve de nada a discussão". É para isso que serve o parlamento e a democracia - ouvir o outro, acrescentar novas dimensões à nossa realidade e assim construir soluções para a comunidade. Senão, não passam de duendes raivosos que se esfumam no tempo.

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