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Artigo de Opinião

Antropóloga / Investigadora

4/12/2023 04:00

Esta semana volta a ficar marcada por duas personagens que fazem parte do imaginário do Ocidente. Refiro-me às duas crianças gémeas luso-brasileiras que vieram a Portugal em 2019 receber o medicamente Zolgensma, um dos fármacos mais dispendiosos do mundo. Custa cerca de dois milhões de euros, e combate uma doença rara, mortal nos bebés.

Segundo as notícias, duas gémeas que vivem no Brasil receberam, em Lisboa, um tratamento que totalizou no conjunto quatro milhões de euros. Apesar de um parecer contra dos médicos do hospital Santa Maria, em Lisboa, o tratamento avançou e as suspeitas admitem que possa ter sido por influência do chefe de Estado ou mesmo pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que já negou qualquer interferência no caso.

É de se dizer que depois da queda do governo, este assunto vem à tona para assombrar o Presidente da República, ameaçando e até mesmo atrapalhando a sério o segundo mandato de Marcelo Rebelo Sousa, deixando-o até, metaforicamente, nos cuidados intensivos.

A verdade é que este caso é tão escandaloso de “cunhas” e de “esquecimentos” que retrata, infelizmente, o país em que vivemos.

Ora, sobre este assunto, várias são as opiniões. Já ouvi de tudo. Por um lado, teorias da conspiração de querer queimar Marcelo Rebelo Sousa, por outro lado, questões da atribuição da nacionalidade, da xenofobia, do racismo e do preconceito.

Sobre este assunto, vejo sob diversos prismas:

Ponto um: o valor do medicamento. Qual a razão de existir um fármaco - que salva-vidas – que custa dois milhões de euros? Será legítimo dar a uns e não a outros?

Ponto dois: a cunha. Se existe favoritismos, se há compadrio, se há cunha – e sejamos sinceros, neste país é o que mais existe em todo o lado – certamente que esta cartada será utilizada, principalmente no que concerne a saúde. Não é correto nem ético. Está errado! Mas é a lei da sobrevivência perante os problemas do Sistema Nacional de Saúde: espera de longos meses por uma consulta de especialidade, por um exame médico ou por uma baixa de urgência. Muitas vezes, esta cartada não é usada para passar propositadamente à frente de alguém, mas sim, unicamente, para ser atendido por um serviço que se encontra num descalabro total com urgências fechadas e consultas atrasadas.

Ponto três: a nacionalidade. Efetivamente, o Governo abriu as fronteiras para a obtenção da nacionalidade, como um meio ou, se quisermos, um instrumento para uma espécie de turismo de saúde.

Aquilo que é revoltante é ver alguém que obtém a nacionalidade em poucos dias - num processo relâmpago - e que é privilegiado com um tratamento de saúde, em comparação a outras crianças portuguesas que aguardam meses e anos pelo tratamento. Quais os critérios que, eventualmente, terão sido corrompidos para satisfazer os membros do governo? Será isto um tráfico de influências?

Sendo o SNS pago pelos contribuintes, temos o direito de saber se o sistema, efetivamente, serve aqueles que precisam e se é um serviço de qualidade, de prestígio, de excelência, de acesso e universal a todos os portugueses como refere a Constituição; ou se é um serviço “toque e foge”, ou seja, adquire a nacionalidade e pronto, já está tratado! Será isto um tráfico de influências? Será isto um jogo de poderes? Enquanto portugueses e contribuintes que pagamos pelo SNS, merecemos uma resposta, mas ninguém tem a coragem e a decência de afirmar que foi responsável pela decisão.

Dito isto, estamos entregues aos leões!!!

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