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Artigo de Opinião

O ESPÍRITO DOS TEMPOS

28/01/2022 08:00

A campanha feita pelos dois principais contendentes na Região não trouxe grande originalidade e o confronto político não escapou à rotina enraizada, embora necessária, que separa duas dimensões: o mundo dos autonomistas e o mundo dos centralistas.

Esta dicotomia sacrifica o aparecimento de ideias novas em detrimento da manutenção de ideias consolidadas. Na verdade, quase nada foi dito sobre o presente e o futuro que não se soubesse ou se antecipasse. Mas enquanto uns fizeram valer o que ainda está por fazer acontecer, redimir e pagar (PSD e CDS, os autonomistas), outros preferiram mostrar, repetir e mascarar os supostos benefícios de uma solução falida, cansada e moribunda (PS, o centralista). Alguns candidatos podem ter parecido discos riscados, mas há assuntos que simplesmente não podem ser enterrados porque a política também se realiza nesta tarefa de Sísifo: ideia acima e ideia abaixo, insistir e persistir. Aceita-se o corolário porque não se mudam fórmulas com resultados comprovados.

Houve, contudo, oportunidade para os partidos pequenos ocuparem um espaço que está fora do alcance dos partidos grandes. Infelizmente, esse espaço foi desaproveitado por falta de visão, de argumento e de capacidade. Enquanto os maiores se digladiavam por outros objectivos, os menores imolavam-se, sem conseguir fugir das ideias feitas, dos chavões e das bengalas políticas. Logo, não trouxeram novidade e não convenceram.

Ninguém escapou. A CDU nunca surpreendeu e por isso não desiludiu; o BE andou à procura do eleitorado perdido desde que, como Fausto, vendeu a alma ao diabo; o JPP foi a metáfora perfeita de uma luz que se apagou em directo; a IL foi uma mescla de arrogantes que se julgam moralmente superiores, apesar de algumas boas ideias; o Chega não mostrou força regional e revelou-se uma agremiação unipessoal. Os restantes também se fizeram à estrada, aproveitaram a televisão e os outros meios para chegar às massas e, sem sarcasmo, ajudaram a fortalecer a democracia. Tiro-lhes o chapéu pela dedicação à causa. Fazem mais bem do que mal, isso de certeza.

Mas estas eleições, infelizmente para os partidos pequenos, não são um momento para experiências porque um círculo como o da Madeira elege apenas 6 deputados. Neste enredo, há duas opções evidentes em cima da mesa e uma opção tácita oculta por baixo da mesa. Ou (1) ganha o PSD, há uma maioria à direita e Rui Rio é primeiro-ministro. Ou (2) ganha o PS, há uma maioria à esquerda e governa António Costa. Ou (3) ganha o PSD, há uma maioria à esquerda e governa aquele que não vai a votos, Pedro Nuno Santos, o homem que enfia dinheiro público em negócios sem saída. São estas as opções com a agravante das duas últimas, por experiência histórica, acabarem em gloriosa festa com a chegada do FMI ou similar.

Felizmente, não precisa de ser assim porque Rui Rio tem feito o que comentadeiros, trauliteiros, mentecaptos e outros avençados diziam ser impossível: lutar pela vitória nas eleições legislativas, aproximando-se de um António Costa esgotado e perdido e de um PS a fazer uma campanha desastrosa e em queda livre. Até aqui se reconhece que o PSD tem de lidar com a escassez, enquanto o PS desperdiça a abundância: vantagens de dez pontos são saudosas miragens e a maioria absoluta socialista é utopia incinerada.

As consequências do socialismo na pátria têm sido confrangedoras. Somos um país com desigualdades acentuadas, com impostos insuportáveis e que continua a ver emigrar os melhores de nós. Somos um país cujo Estado é adversário da livre iniciativa, inundado de pequena e grande corrupção, com justiça lenta e ainda dominado por uma ideologia de esquerda que manieta o espaço público, o ensino e gerações inteiras. Somos um país avançado nos "direitos" e tão pouco cumpridor dos seus "deveres". E sim, há que chamar os bois pelos nomes: Guterres, Sócrates e Costa são os responsáveis pela decadência e ruína nacionais e são rostos desta dinastia oligárquica socialista, infindável e consanguínea, forjada para mandar quase perpetuamente nos portugueses.

Se voltarmos a confiar nesta gente, não foi por falta de aviso. Com uma bazuca na mão e dinheiro a jorrar do chão, a festa durará mais algum tempo, mas não durará o tempo todo. A conta, essa, será mais um capítulo firmado para um fim trágico, sem conserto e, bem à portuguesa, sem culpados. Mas ninguém poderá dizer que não se apercebeu. Porque nunca nada foi tão claro como água.

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