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Artigo de Opinião

Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses

9/12/2022 08:00

Simultaneamente, não têm faltado peças sobre a perspetiva dos trabalhadores acerca da experiência de teletrabalho. Desde a crescente presença do pensamento "poderia perfeitamente estar a fazer isto em casa" ou "esta reunião poderia ter sido um email", evitando-se deslocações, despesas e desgaste desnecessários, até à expetativa sobre a possibilidade de teletrabalho ou de pelo menos de alguma flexibilidade na gestão de tarefas, persiste o debate de como podemos organizar o trabalho num período pós-pandémico.

Numa crónica em maio de 2021, abordamos este assunto (https://www.jm-madeira.pt/opinioes/ver/5005/O_que_aprendemos_sobre_teletrabalhof), referindo que a experiência, na altura forçada pela pandemia, veio evidenciar que o teletrabalho é uma modalidade com potencial, a ser utilizada com parcimónia, procurando-se uma combinação ideal e adaptada a cada caso entre trabalho presencial e remoto. Ora, a questão central continua a ser esta.

O teletrabalho surgiu na pandemia como uma necessidade, uma contingência face àquelas circunstâncias. Mas estamos agora num outro patamar qualitativo de funcionamento e houve uma transformação psicossocial que não podemos ignorar, incluindo na forma como encaramos o trabalho. Isto significa que não é expectável que se volte simplesmente ao que era antes, como se nada tivesse ocorrido ou como se a produtividade dependesse apenas de estar fisicamente num determinado local.

É claro que as organizações não podem funcionar exclusivamente com os trabalhadores em casa, já que isso traz riscos para o clima e cultura organizacionais, e que há assuntos cuja eficiência na gestão requer o "estar lá" presencialmente, com debate e troca de ideias, com envolvimento e interação. Além disso, porque já não estamos em contingência, o teletrabalho eficaz subentende um modus operandi e uma cultura própria - há todo um conjunto de dimensões que têm de ser consideradas para que o teletrabalho resulte. Por outro lado, muitos trabalhadores também não querem estar assim tão isolados - não esqueçamos a importância da interação social para os seres humanos.

Mas tudo isto também não significa que devamos olhar para o teletrabalho como algo que já passou. Essa não é a expetativa dos trabalhadores e isso tem já impacto na sua motivação e nas representações sociais sobre o que é trabalhar nos dias de hoje.

Se queremos ter organizações competitivas e geradoras de bem-estar, onde todos se sintam motivados e envolvidos, com mais equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, teremos de considerar qual o melhor mix de modalidades de trabalho e de ter a flexibilidade para essa gestão contínua.

Não se trata de panaceias, nem de ter um "tamanho único" para todos. Trata-se sobretudo de percebermos - lideranças e trabalhadores - em que medida podemos desenhar, caso a caso, uma forma de trabalhar que funcione e proporcione experiências de trabalho mais saudáveis e produtivas.

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