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Artigo de Opinião

Economista

5/11/2022 08:00

Que partido do centro democrático português poderá concordar com discursos de ódio, com desrespeito pela conservação da natureza, com irresponsabilidade na gestão da pandemia, com auto-exclusão da ordem internacional, com atropelos ao estado de direito? Só nos desejos mais mórbidos de abandono da democracia pós 25 de abril é que poderia haver algum espelho nacional da política de Bolsonaro, agora derrotado em urnas no Brasil.

Ainda para mais quando observamos o total desrespeito pelo ato eleitoral por parte de seus apoiantes. Bloqueios de estradas, saudações nazi, propagação de fake news nas redes. Mesmo sem incitação oficial, este género de comportamento anti-democrático é o resultado de líderes que brincam com o desespero da população e dão fogo às acendalhas populistas para depois se afastarem comodamente dos tumultos. Já vimos isso com a invasão do Capitólio em Washington, por parte dos apoiantes que não aceitavam a derrota de Trump.

Também não vale a pena se esconder na equiparação entre Bolsonaro e o agora presidente eleito Lula da Silva. Dizer que não se votaria em nenhum dos candidatos é dar carta branca aos atropelos das instituições brasileiras, esquecendo que nunca aconteceu nada semelhante quando Bolsonaro ganhou as eleições. Mais, em 2019 o candidato derrotado Fernando Haddad prontamente saudou-o como vencedor, ao contrário do silêncio de 48 horas de Bolsonaro em relação a Lula da Silva. Um silêncio com claro significado mobilizador para os seus apoiantes nas ruas que, felizmente, entretanto se desmobilizaram.

Decalcar a realidade partidária portuguesa sobre as eleições presidenciais brasileiras omite uma série de fatores. Primeiro, Lula da Silva foi eleito com base no apoio de 10 partidos ideologicamente bastante distintos. Segundo, quase todos os ex-presidentes e lideranças do PSDB, declararam apoio público a Lula —alguns chegaram a participar em atos de campanha. Terceiro, quando se trata de defender o Estado de Direito as diferenciações "esquerda/direita" cessam de existir. E por fim, quarto: colocando de parte todos os traumas partidários nacionais, os eleitores portugueses merecem respostas adequadas como alternativa ao PS, nada de decalques de modelos falhados e populistas de outras bandas. Reduzir tudo a uma dicotomia esquerda/direita é menorizar o próprio intelecto do eleitorado.

Lula da Silva tem uma tarefa hercúlea à sua frente para reparar os danos da gestão danosa do executivo de Bolsonaro e de procurar unir o povo brasileiro para os desafios vindouros.

Que não se caia em profecias autocumpridas, ao invocar espíritos bolsonaristas em solo português!

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