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Artigo de Opinião

Presidente da Delegação Regional da Madeira da Ordem dos Psicólogos Portugueses

21/07/2022 08:01

Como é que a pobreza contribui para a deterioração da saúde mental? Desde logo, através da designada mentalidade de escassez ou carência, em que cada pessoa está focada em como sobreviver no curto prazo e responder a necessidades do imediato. Um estado que não permite a estabilidade, a capacidade de planear e de tomar as melhores decisões, o que, por sua vez, contribui para perpetuar o ciclo de pobreza. São também de referir as frequentes representações sociais de que a pobreza resulta de falhas pessoais ou de personalidade, um estigma que contribui para que os indivíduos se vejam a si próprios como menos capazes de ter sucesso e portanto sejam menos confiantes. A pobreza caracteriza-se ainda por condições deterioradas de saúde física, incluindo de nutrição, e pela exposição a ambientes de risco, caracterizados por piores condições de habitação e de repouso e conforto, por poluição e mesmo por violência, condições essas que podem ser marcantes logo na infância, tendo implicações severas para a saúde mental, bem estar e desenvolvimento ao longo da vida.

Mas a relação entre pobreza e problemas de saúde mental não é apenas unidirecional, no sentido de que a pobreza é um fator de risco para a saúde mental. Na verdade, uma das consequências das perturbações psicológicas é também o risco de pobreza, já que essas perturbações poderão contribuir para barreiras na vida, para a redução da motivação, do envolvimento social e da capacidade de tomada de decisão. Frequentemente, conduzem à interrupção dos estudos e a menor produtividade no trabalho, o que tem impactos na carreira, no emprego e consequentemente nos rendimentos.

Esta ligação entre pobreza e saúde mental aplica-se também às intervenções: por um lado, o combate eficaz à pobreza (que inclui a combinação de vertentes como o treino de competências, o apoio financeiro temporário, o acesso à saúde, entre outros) contribui para a saúde mental; por outro, a promoção da saúde mental (que inclui dimensões como as competências socioemocionais e de gestão de carreira, a literacia em saúde psicológica, a parentalidade, entre outros) tem o efeito de contribuir para maior capacidade de obtenção e manutenção de um emprego e de concretização de projetos de vida, o que reduz o risco de pobreza ou promove a saída desta condição.

Se é possível melhorar a vida das pessoas e a coesão social, em especial com intervenções que combinam dimensões económicas e psicossociais, importa assim avançar na compreensão deste fenómenos, apresentar contributos (como é o caso da iniciativa da Ordem dos Psicólogos Ponto Final à Pobreza www.finalapobreza.pt) e agir. As intervenções de promoção da inclusão e em saúde mental, desde a prevenção à recuperação psicossocial, continuam a ser um investimento com muito retorno.

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