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Artigo de Opinião

Economista

23/03/2024 08:00

Por breves momentos pensei que se tratava de uma proposta irónica. Que a ALRAM tinha sido alvo de uma engraçada campanha mediática, repleta de duplos significados. A Iniciativa Liberal, suposta linha da frente do liberalismo moderno em Portugal, quis lançar a “festa madeirense do Natal” a património cultural imaterial da Humanidade. Felizmente que esta bizarria foi chumbada pela maioria PSD/CDS e PAN. Mas curiosamente, na hora da votação, a IL teve companhia no seu folclore por parte do JPP, PS, CH e PCP. Para estes partidos parece que o mundo termina na Ponta de S. Lourenço e que só na Madeira o Natal é “um momento de celebração, de família, de enorme alegria e partilha”.

Se calhar devíamos era refletir sobre outras festas madeirenses. Essas sim, bastante mais idiossincráticas. A capacidade de lançar foguetes e clamar vitória política quando se ignora perigos latentes na sociedade que estão em franco crescimento. Achar que absorvendo o extremismo se consegue dominá-lo. Falo naturalmente dos social-democratas (!) apologistas do diálogo com o CH para garantir a perpetuação no poder.

Desde o aparecimento desse partido que o eleitor madeirense tem consistente e progressivamente dirigido o seu voto de protesto para o CH, catapultando-o nas eleições regionais de 0,43% em 2019 para 8,88% em 2023. Esse voto segue a mesma tendência quando olhamos os resultados nas eleições legislativas nacionais no círculo eleitoral da Madeira: 0,70% (2019), 6,08% (2022) e 17,56% (2024). Procurar perceber as razões de protesto do eleitor não é a mesma coisa que incorporar as políticas desse partido num governo social-democrata.

A nível nacional assistimos a uma semelhante festa ilusória quando vemos proeminentes comentadores mais felizes com a substituição de um deputado socialista (Augusto Santos Silva) por um deputado do CH no círculo Fora da Europa, do que preocupados com não-eleição do deputado do PSD (Carlos Gonçalves) que teria sido uma enorme mais valia para as comunidades portuguesas na Europa.

Por isso, fazer a festa da reeleição interna no PSD-M, fechando os olhos para esta fuga de uma tipologia de eleitor que não vê alternativa no (ainda) maior partido da oposição, mas antes num beco sem saída extremista, é deveras preocupante.

Se o próximo congresso do PSD-M se resumir a essa celebração do imediato, falhará redondamente aquilo que seria essencial, considerando o papel de charneira do PSD na democracia regional. Urge uma reflexão profunda interna para procurar compreender a fuga de eleitores relativos. Paralelamente compete à liderança fazer a sua leitura dos resultados eleitorais internos, considerando que a margem de vitória ficou consideravelmente mais curta em 2024 que em 2014.

Se não se trabalhar nestes difíceis temas internos e externos ao PSD-M, quem faz a festa madeirense são outros. E mais que o PSD, aí quem perde é a própria democracia regional.

Sugestão da semana: Para nos lembrarmos do que está em causa quando defendemos a democracia neste ano do 50º aniversário da Revolução de Abril, recomendo o filme “Zona de Interesse” (2023) que se centra sobre a vida da família do comandante nazi do campo de concentração de Auschwitz. O lar tradicional da família Höss com o seu jardim bucólico separado por um mero muro do inarrável sofrimento dos presos de Auschwitz é um duro golpe na nossa consciência humanista. O filme consegue transmitir-nos visceralmente o abismo de Auschwitz sem uma única imagem do campo de concentração, o que não minimiza a sensação de horror perante a inumanidade fascista – bem pelo contrário, em linha com a prática da banalidade do mal, conforme Hannah Arendt. Sem margem para dúvida, “Zona de Interesse” é um dos filmes mais contundentes sobre o Holocausto.

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