O Presidente dos EUA, Joe Biden, acusou hoje a China de “trapaça” por subsidiar a produção das suas empresas, especialmente no setor automóvel, para baixar o preço dos seus produtos.
“Não vamos deixar a China inundar o nosso mercado, tornando impossível aos fabricantes de automóveis competir honestamente”, assegurou Biden, para justificar o aumento acentuado dos direitos aduaneiros sobre os veículos chineses.
Biden também prometeu que os veículos elétricos do futuro “serão fabricados nos Estados Unidos”, mostrando vontade em ganhar a dianteira na concorrência direta com a China, a quem voltou a acusar de roubo de propriedade intelectual.
“Às vezes, a China rouba diretamente através de ciberespionagem e outras manobras e isso está bem documentado e reconhecido internacionalmente. E quando usam táticas como essas, não estão a concorrer. Não é competição, é trapaça”, denunciou Biden num discurso feito a partir da Casa Branca.
Horas antes, o Presidente norte-americano já tinha anunciado novas tarifas sobre as importações de produtos provenientes da China, sendo os veículos elétricos os mais punidos, com impostos que passaram de 25% a 100%.
As novas tarifas afetam sectores descritos pela Casa Branca como “vitais para o futuro económico e para a segurança nacional dos Estados Unidos”, e incluem aço, alumínio, semicondutores, veículos elétricos, baterias, painéis solares, guindastes de descarga de navios e produtos médicos.
O anúncio surge em plena campanha para as eleições presidenciais de novembro e numa altura em que Biden, apesar de ter aberto um diálogo com Pequim, tem adotado um tom cada vez mais duro com a China, imitando o seu adversário republicano, Donald Trump, que também promete endurecer a estratégia de negociação com Pequim.
Algumas das tarifas anunciadas pela Casa Branca deverão entrar em vigor em 2025 ou em 2026, pelo que a sua implementação dependerá de quem ganhar as eleições.
A tarifa mais severa atinge os veículos elétricos e passará de 25% para 100% e será aplicada já este ano.
Este enorme aumento responde ao aumento substancial das exportações de veículos elétricos da China para os Estados Unidos, que cresceram 70% entre 2022 e 2023, algo que Washington interpreta como uma ameaça ao desenvolvimento do mercado interno destes automóveis.
Biden quer que até dois terços dos carros novos vendidos nos Estados Unidos sejam elétricos até 2032 e, para isso, tem promovido diversos programas para incentivar a sua produção.
Outro aumento tarifário significativo recai sobre as baterias utilizadas em veículos elétricos, um mercado que a China controla graças ao seu domínio na mineração, processamento e refinação de minerais críticos.
A tarifa sobre peças de baterias elétricas aumentará de 7,5% para 25% este ano, e a tarifa sobre grafite natural e sobre ímanes aumentará de 0% para 25% em 2026.
Finalmente, a tarifa sobre outros minerais críticos aumentará de 0% para 25% ainda em 2024.
Na área das energias limpas, as tarifas dos painéis solares também vão aumentar, passando de 25% para 50% este ano.
Os semicondutores sofrerão o mesmo aumento, embora nesse caso o aumento ocorra em 2025.
Este aumento visa impulsionar a produção nacional de semicondutores, apoiada num investimento de 53 mil milhões de dólares que o Congresso aprovou em 2022 e que procura evitar os aumentos de preços que se registaram durante a pandemia de covid-19 em setores como o automóvel e a indústria dos transportes.
Na sua declaração de hoje, Biden tentou estabelecer uma distinção entre estas taxas, visando especificamente setores em que Biden investiu, e as “tarifas indiscriminadas” que acredita que Trump impôs quando era presidente.
Durante o seu mandato, Trump impôs tarifas sobre centenas de milhares de milhões de produtos chineses, aos quais Pequim respondeu com mais tarifas, desencadeando uma guerra comercial que teve consequências negativas para o crescimento global.