MADEIRA Meteorologia

Maurício Melim: aperto da fiscalização para baixar casos até à Páscoa

    JM-Madeira

    JM-Madeira

    Data de publicação
    15 Março 2021
    5:00

    Maurício Melim, delegado de saúde do Funchal, defende que as autoridades devem apertar ?a fiscalização sobre os estabelecimentos comerciais que continuam a vender bebidas alcoólicas com gente ?à porta fechada, mas também sobre quem continua em “almoços, jantares e festinhas na casa de um e de outro”.

    Por Alberto Pita

    albertopita@jm-madeira.pt

    O Funchal concentra cerca de 39% dos casos confirmados de covid-19 na Região e 64% das mortes. Como é que o delegado de Saúde do Funchal avalia a evolução do vírus no concelho?

    Nós temos de olhar para a evolução em dois tempos. Há um primeiro momento, que teve início em março de 2020, em que a pandemia se foi construindo na Região até novembro, mas sem haver um crescimento exponencial.

    A avaliação positiva é também pela forma como os madeirenses se posicionaram perante as indicações das autoridades ou há nichos comportamentais que ainda vos preocupam?

    Há situações que nos preocupam. Fundamentalmente, as populações que vivem em zonas altamente povoadas, onde algumas questões sociais ainda não estão totalmente resolvidas.

    Há áreas geográficas que esteja a pensar neste momento onde vivam essas pessoas?

    Sim. Eu estou a pensar nas habitações coletivas nos bairros sociais, por exemplo. São áreas que já fora das pandemias trazem problemas em termos de saúde. E falamos no concelho do Funchal, onde vivem muitas pessoas, mas também falamos nos concelhos de Câmara de Lobos e de Santa Cruz.

    Mas o que acontece nesses locais que faz potenciar a transmissibilidade?

    É o facto de as pessoas não poderem isolar-se num espaço sem propagar a doença. Não é possível confinar as pessoas naqueles espaços. Muitas frações são pequenas e sobrelotadas e há a tendência para descer a escada e vir cá para fora para conviver. Nós temos essa perceção.

    Como é que classificam esses pontos?

    São pontos que nós consideramos preocupantes em termos da transmissão e, quando os olhamos em termos de georreferenciação, são chamados pontos vermelhos.

    Quem são essas pessoas?

    Não podemos dizer que é um grupo em particular. É um problema transversal. Envolve novos e pessoas, inclusivamente, em idade ativa. Por exemplo, quando tecnicamente recomendamos um teletrabalho é para fazê-lo, não é para não trabalhar. Nós temos a perceção que muitas das vezes as pessoas pressionam grandemente quer as entidades patronais, quer os serviços públicos, para ficaram com horários desfasados e em teletrabalho, mas depois passam o dia a circular de uma casa para outra e a aproveitar para levar meninos à escola. Isso acontece.

    Nas últimas semanas tem havido um abaixamento gradual do planalto de casos para onde saltámos ainda antes do Natal. Apesar dessa diminuição, continuamos, contudo, acima do valor desejado. Na verdade, estamos a mais do dobro do número de referência - os 20 casos diários - para reabrir o que está fechado ou condicionado. No seu ponto de vista, haverá condições para aliviar as medidas de confinamento logo após a Páscoa?

    Todos nós gostaríamos, tão breve quanto possível, aligeirar as medidas, mas temos de pensar que para aligeirarmos há, de facto, determinados indicadores que têm de estar já perfeitamente estabelecidos. Caminhamos para lá, mas ainda não os atingimos.

    E qual é a sua opinião sobre isso?

    A minha opinião é que é possível encontrarmos algumas soluções de compromisso que possam, de alguma forma, acelerar essa descida. Estou a pensar que, por exemplo, ao fim de semana, e ao contrário do que as pessoas pensam e esperam, eu se calhar criaria medidas restritivas durante duas ou três semanas para tentar atingir os valores que seriam os de referência, para depois então desconfinar.

    Portanto, até à Páscoa?

    Sim, mas penso que não é por aí que nós iremos. Iremos manter aquilo que está definido, e aguardar mais um tempo. Ou seja, não será tão rápido o decréscimo, mas chegaremos daqui a quatro semanas já com valores que nos permitem entrar num processo diferente de restrições.

    Quantos casos de pessoas da Madeira já vacinadas contraíram o vírus?

    Não lhe sei dizer o número, mas são alguns casos. Por mais adequadas que sejam as vacinas, elas não vão ser 100% eficazes, e, portanto, algumas pessoas não vão ficar imunizadas e protegidas. São essas as pessoas que apesar de estarem vacinadas, vão contrair a doença. Isso tem acontecido na Madeira, na população em geral e também nos profissionais de saúde.

    Como está a saúde dessas pessoas que contraíram o vírus já depois de serem vacinadas?

    Não tem havido grandes problemas, em termos de doença, e nem temos testado nenhum evento adverso. Agora, isso tem acontecido e era expetável que acontecesse.

    Já houve casos na Madeira de recuperados que tivessem voltado a ser infetados?

    Que nós tenhamos o diagnóstico não.

    Atualmente, a variante do Reino Unido é a dominante na Madeira. Mas já temos também as variantes do Brasil e da África do Sul?

    Que eu tenha conhecimento não. Mas é provável que as possamos ter num futuro próximo.

    Atualmente, qual o índice de transmissibilidade na Madeira, ou seja, o rt?

    Eu não sei responder-lhe. Mas ele é, seguramente, inferior a 1, porque nós sentimos que o aumento de número de casos está controlado.

    Gostaria de voltar atrás na entrevista para perceber melhor a questão do futuro alívio das medidas de que falámos. Fiquei na dúvida se, em sua opinião, seria demasiado arriscado aliviar as restrições logo após a Páscoa.

    Não é arriscado e devemos fazê-lo, como eu disse, o mais rapidamente possível.

    Mas falou em quatro semanas e esse tempo dá para lá da Páscoa.

    Pois, prevendo ao ritmo como estão a descer as coisas.

    Então, por que motivo não é arriscado?

    Eu estava a dizer: vamos esperar por esse tempo. Três a quatro semanas. Devemos fazer o alívio, mas não com estes números. Não é arriscado fazer, quando os números forem outros. Agora é preciso ver quando vamos chegar aos 20 casos por dia.

    Mas a minha pergunta é se nós chegarmos ao fim da Páscoa e ainda não estivermos nos 20 casos por dia, deve haver um alívio das restrições na Madeira?

    Na minha opinião, não deve haver um alívio das restrições. Eu até ia equacionar outras estratégias para tentarmos chegar a essa altura já com esse número.

    Apertar nos fins de semana, como anteriormente disse?

    Sim, mas sobretudo, aquilo que nós devíamos procurar fazer – e é isso que vamos tentar esta semana – é ter medidas mais restritivas de controlo. Não é mudar o que está.

    Então seria uma maior fiscalização?

    Sem dúvida. Essa é que é, neste momento, a tónica que me parece ser a melhor. E deve assentar nos seguintes vetores. Primeiro, é as pessoas tomarem a consciência que se querem viver um bom verão, têm de mudar alguma coisa. No fundo, era pedir um pequeno sacrifício de contenção. Segundo, haver mais fiscalização, com as autoridades mais em cima das situações, porque nós temos zonas em que seria preciso atuar. Estou a pensar concretamente que há estabelecimentos comerciais que continuam a servir bebidas alcoólicas e têm gente à porta fechada. São sítios perfeitamente identificados e todos nós os conhecemos. Eu apontaria, por exemplo, para as zonas altas do Funchal, mas não só. Nos tais níveis de alta densidade há determinados sítios onde se continua a jogar às cartas, onde se continua as reuniões em garagens. Era isso que era preciso acabar.

    Mas vai propor isso ao Governo Regional?

    Se nos for dada a oportunidade, vamos transmitir.

    Sobre o plano de alívio de restrições, acha que era importante o Governo Regional adotar um calendário ao estilo do que fez na quinta-feira o primeiro-ministro? Por outro lado, pergunto por onde deve começar o levantamento das restrições, considerando, por exemplo, que o 3.º ciclo e o secundário continuam sem aulas presenciais.

    Nós temos de começar pela educação. As escolas são lugares seguros, desde que mantenham os planos de contingência como mantêm.

    No início da pandemia, muitas pessoas se voluntariaram para ajudar os profissionais de saúde no ativo. Qual o contributo que têm dado?

    Nós temos tido uma grande disponibilidade na Unidade de Saúde de Emergência em Saúde Pública para incluir essas pessoas. Entre elas estão profissionais de saúde, nomeadamente médicos aposentados que têm tido um papel importante no seguimento dos casos de infetados nas suas residências. Há oito médicos aposentados a colaborarem connosco, mas há outros médicos e enfermeiros a ajudarem também. Temos recebido outras pessoas de diferentes áreas profissionais, incluindo militares. A nossa equipa é multidisciplinar e multissetorial e tem dezenas de pessoas.

    OPINIÃO EM DESTAQUE

    88.8 RJM Rádio Jornal da Madeira RÁDIO 88.8 RJM MADEIRA

    Ligue-se às Redes RJM 88.8FM

    Emissão Online

    Em direto

    Ouvir Agora
    INQUÉRITO / SONDAGEM

    Qual o seu grau de satisfação com a liberdade que o 25 de Abril trouxe para os madeirenses?

    Enviar Resultados
    RJM PODCASTS

    Mais Lidas

    Últimas