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Violência doméstica: Confinamento leva mulheres a quererem autonomizar-se

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Data de publicação
08 Março 2021
5:00

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Silvana Freitas, psicóloga e técnica certificada no apoio à vítima, tem testemunhado isso mesmo, no atendimento que faz às mulheres que procuram o apoio da Associação Presença Feminina.

A instituição tem sede em Santo Amaro, São Martinho, mas é procurada por mulheres de toda a ilha, conforme a especialista faz questão de salientar enquanto nos descreve como tem sido a vivência das vítimas de violência doméstica durante a pandemia.

Segundo Silvana Freitas, os confinamentos vieram agudizar problemas e criar outros, mas também fizeram algumas mulheres ganhar consciência do nível de subjugação e até de perigo a que estão sujeitas no dia-a-dia. A tal se deve a permanência das mulheres com os seus agressores sob o mesmo teto (24 horas sobre 24 horas) associada à alteração das rotinas, ao ‘lay off’ ou desemprego e o afastamento das relações sociais.

A tudo isto há a juntar o facto de alguns destes agregados familiares viverem em habitações exíguas, que não proporcionam momentos de privacidade, nomeadamente às vítimas que precisam de pegar num telefone para pedirem ajuda. Esses pedidos acabam por surgir, na primeira oportunidade, nomeadamente junto da Presença Feminina.

Salvaguardando que só pode falar dos casos que lhe têm aparecido, desde o início deste momento atípico que está a marcar a vida de toda a população, a psicóloga nota que depois do primeiro confinamento houve mulheres, vítimas de violência doméstica, que ganharam coragem para se afastarem dos agressores e iniciarem um processo de autonomização.

Ninguém fica sem resposta

Estes processos nem sempre são tão céleres quanto as vítimas querem e necessitam. Contudo, o facto de "haver um clique" da parte das mulheres para se afastarem dos seus agressores é, na opinião da especialista, um momento que deve ser bem aproveitado por quem, como ela, trabalha em prol das vítimas de violência doméstica onde inclui também os filhos menores, igualmente penalizados.

"Da parte da associação, ninguém fica sem resposta", assegura a psicóloga. Por ser tão importante esse despertar, Silvana Freitas não quer que as pessoas pensem que poderão ficar de fora e acrescenta que são disponibilizados apoios psicossociais e jurídicos, pois existe também na associação um advogado que faz atendimento no que concerne à parte jurídica.

A ocorrência de homicídios associados a violência doméstica (como aconteceu no início do ano no Funchal) também costuma ser um fator de alerta e de procura de ajuda segundo a psicóloga.

A Associação Presença Feminina, constituída em novembro de 1995, tem como missão a defesa dos direitos, promoção e dignificação da mulher, dando particular ênfase ao apoio às vítimas de violência doméstica, pelo que é uma das instituições parceiras do Plano Regional Contra a Violência Doméstica. A associação tem outras valências voltadas para as minorias étnicas e para projetos de âmbito internacional, em África.

A 88.8 JM FM assinala hoje o Dia da Mulher com o programa ‘ComVida’, da autoria de Miguel Guarda e Rubina Leal e terá como convidada Elisabete Brasil, especialista em estudos de género. Jurista e presidente da FEM - Feministas em Movimento, a entrevistada conta com mais de 20 anos de experiência de trabalho na área da violência doméstica, sendo formadora em violência domestica e de género. Elisabete Brasil coordenou durante vários anos o Observatório de Mulheres Assassinadas e atualmente desenvolve investigação sobre o impacto das políticas públicas em matéria de violência doméstica em Portugal.

Por Iolanda Chaves

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