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“Vai ser difícil voltar ao que éramos”

JM-Madeira

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Data de publicação
06 Março 2021
5:00

Pedro Nunes, médico dentista, comentador desportivo e cronista do JM, foi ontem o convidado do programa ‘Centro das Conversas’, uma parceria entre o JM e o ‘shopping’ La Vie. Pandemia, escrita, União e (alguma) política foram os temas abordados numa conversa séria com algum humor.

“Esse texto deve ter sido escrito pela minha mãe. Só uma mãe consegue tanto elogio”. A reação pronta e bem humorada de Pedro Nunes à introdução da conversa pelo jornalista e diretor da JM FM 88.8 marcou o arranque de mais uma edição do ‘Centro das Conversas’

A pandemia foi um dos temas obrigatório. Mais do que as viagens que as pessoas não estão a fazer, é no domínio dos afetos que centra a sua maior preocupação. Mas avisa, desde já, que os preços das viagens “vão disparar” e que da parte dele, que tem três filhos, “vai esperar” algum tempo, quando isso acontecer.

Pedro Nunes teme que alguma proximidade se perderá, que as pessoas pensarão duas vezes antes de avançarem para um abraço, e, deste modo, nem tudo ficará bem, ao contrário do que diz o slogan. “Vai ser difícil voltar ao que éramos”, afirma.

Como profissional da área da saúde, alerta que a vacina não deverá ser vista como um botão em que se toca e de repente o risco desaparece, mas como um interruptor de rodar que vai ajustando lentamente a realidade. Espera que o cansaço que as pessoas sentem não as leve a desconfinar, no pressuposto de que uma “nova vaga” acontecerá “se nos descuidarmos”.

Gestão da pandemia

Sobre a gestão da pandemia, admite que a tentação de dizer mal é grande, mas que não consegue. “É muito fácil estar nesta cadeira e falar. Essas pessoas [quem gere a pandemia] têm de tomar decisões na hora. Não queria estar no lugar delas”, afirmou.

Admite que não tem concordado com todas as medidas e dá como exemplos haver recolher obrigatório e limite na hora das entregas ao domicílio. De um modo geral, pensa que o trabalho de quem gere a pandemia “tem sido positivo”.

Ainda neste tema, Pedro Nunes também nunca percebeu por que razão os dentistas foram os primeiros a parar e não percebe também por que razão “não foram vacinados logo no início”, na primeira leva das vacinas para profissionais de saúde.

Conforme teve oportunidade de dizer e de escrever, são dos especialistas que mais se cruzam com vírus e bactérias e por isso trabalham com máscara o tempo todo, cuidado que não tinham médicos de outras especialidades. “O oftalmologista, que trabalha próximo das pessoas, não usava máscara. Os dentistas sempre usaram máscara”, exemplifica.

Ser médico dentista não é a concretização de um sonho de menino, mas afirma que se sente realizado e não se vê a fazer outra coisa. Ainda sobre a opção que fez, diz que na altura tinha como alternativa parar para fazer melhoria de nota. Foi em frente, na opção que lhe permitiu trilhar o caminho da realização profissional, permitir “devolver um sorriso ou dar um alívio a alguém”.

Fora das redes sociais

Pedro Nunes já era conhecido da opinião pública como comentador de futebol e, graças a um convite que lhe foi lançado pelo JM, revelou-se também um cronista com bastante leitura e com leitores que já não perdem as suas crónicas.

Por não estar na redes sociais, diz que só tem conhecimento das opiniões que têm dele através do que lhe dizem, mas sabe que tem leitores e que só assim fará sentido continuar. Quanto aos críticos, diz que “há pessoas que não sabem interpretar”.

“Tem sido uma surpresa a aceitação das pessoas”, afirma com satisfação.

Não sendo de “grandes leituras”, tem como referências Ricardo Araújo Pereira, João Miguel Tavares e Miguel Esteves Cardoso. Sobre o seu próprio estilo, muito marcado pela ironia e pelo sarcasmo, procurando falar de coisas sérias com humor, diz que quando começou a escrever “não tinha muito a perder” e que vai continuar a escrever sobre a atualidade.

“A crítica não tem de ser dura. Podemos criticar com sarcasmo. Isso fideliza. Abordar [assuntos] de pontos de vista diferentes, a que as pessoas não estão habituadas”, considera. Parte das crónicas publicadas no JM estão compiladas no livro ‘Da Boca P’ra Fora’, lançado em dezembro de 2019.

“Só foi real porque as pessoas foram pedindo. Achei piada deixar um legado aos meus filhos e netos. A nossa passagem é fugaz, se houver alguma coisa que nos possa perpetuar é interessante”, disse. Quanto à eventualidade de um novo livro é algo que deixa em aberto.

Presidente do União?

Dentro do futebol, o União é uma das paixões de Pedro Nunes, que, quando questionado por Miguel Guarda, manifesta desagrado perante a atual situação do clube.

“Nada agradado com isto. União faz lembrar as lagartixas quando se sentem intimidadas e perdem o rabo. Estão a fugir dos predadores”, afirmou.

À pergunta se alguma vez pensou avançar com uma candidatura à presidência do clube do coração, o entrevistado admitiu, de forma humorística, que chegou a pensar no assunto.

“Já tive esse problema, mas fui me tratar. A certa altura fez parte dos meus horizontes, mas tenho um pai mais sábio que mostrou que não era boa ideia”, revelou, sublinhando que não faz parte dos seus planos ser dirigente de futebol. Miguel Albuquerque como o sol Com a entrevista a chegar ao fim, Pedro Nunes foi desafiado a dar uma opinião sobre um conjunto de políticos, a começar por Miguel Albuquerque.

Sobre o presidente do Governo Regional disse que o vê como “o sol” pela faculdade de “aparecer e desaparecer com alguma facilidade. “Muito competente em situações de emergência. Quando são questões de gestão corrente desaparece”, explica.

Pedro Ramos foi o nome que se seguiu. Vê o médico como um “Herói improvável”. Pedro Ramos pensa que o secretário regional está no cargo que “ambicionava há muito tempo”, mas que ninguém ambicionaria num tempo destes, de pandemia.

Provocação puxa provocação, quando confrontado com o nome de Pedro Calado, Pedro Nunes replicou “o vice-presidente ou do candidato à Câmara?”. Diz que muitas vezes o considera mais “o primeiro”. Pensa que “deu esperança a um governo formado aos solavancos, trouxe paz e rigor ao elenco governativo”.

“Uma estrela cadente” é como Pedro Nunes vê Paulo Cafôfo, presidente do PS. “Quando apareceu pensei que a oposição tinha encontrado alguém, mas da mesma forma como apareceu, desapareceu”, justifica.

Já Miguel Silva Gouveia, presidente da Câmara Municipal do Funchal e recandidato ao cargo como independente pelo PS, vê como “um ator secundário a assumir papel principal, com uma equipa que não foi desenhada por ele e sem maioria na Assembleia Municipal”.

A rematar, qual golo certeiro, Pedro Nunes é instado a falar dele próprio e não se desarma: “A certa altura da vida dele ganhou um estatuto de louco e neste momento não tem muito a perder. Sem medir consequências, sem filtros, espera inspirar as pessoas a fazerem esse caminho sem passarem por cima de ninguém”. .

Por Iolanda Chaves

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
11/04/2024 08:00

A finitude da vida é um tema que nos confronta com a essência da nossa existência, levando-nos a refletir sobre o significado e o propósito da nossa passagem...

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