Investigadores acreditam que a identificação dos casos de dengue que foram assintomáticos permitirá ainda avaliar “o risco real de desenvolvimento de dengue grave, em caso de um novo surto”.Investigação
A Universidade da Madeira (UMa), através da Faculdade de Ciências da Vida, em parceria com o SESARAM e com apoio financeiro da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) está a realizar um estudo comparativo entre casos de dengue sintomático e assintomático, em termos imunológicos, bioquímicos e genéticos.
Para tal, está neste momento a contactar as pessoas que estiveram infetadas com dengue, por altura do surto que atingiu a Madeira entre 2012 e 2013, por forma a que, através da recolha de uma amostra de sangue, possa ter um maior conhecimento acerca da doença provocada pelo mosquito Aedes aegypti. O estudo, que está a ser levado a cabo por docentes do Projeto Medicina, na Faculdade de Ciências da Vida, terá como finalidade, a partir dos seus resultados, “avaliar como evoluíram clinicamente as pessoas que apresentaram sintomas na altura do surto, e podem-nos dar pistas importantíssimas para identificar fatores que protejam algumas pessoas das manifestações clínicas da infeção”, como explicou ao JM a responsável pela investigação, Ana Margarida Vigário.
Este conhecimento, considera a responsável, “dará um importante contributo para uma melhor compreensão dos mecanismos da infeção por dengue, que poderão partilhar aspetos comuns com outras doenças infeciosas, e contribuir para futuras estratégias de prevenção e tratamento da dengue”.
Ana Margarida Vigário acredita que a identificação dos casos que foram assintomáticos permitirá ainda avaliar “o risco real de desenvolvimento de dengue grave, em caso de um novo surto”, até porque, salienta, “sabe-se que o primeiro contacto com um dos quatro serotipos do vírus aumenta o risco de desenvolvimento de dengue grave, caso ocorra posteriormente uma infeção com outro serotipo”.
Aliás, adverte, “as pessoas que tiveram infeções assintomáticas podem por isso também ter um risco acrescido de desenvolvimento de dengue grave”.
A investigadora recorda que a única epidemia de dengue na ilha da Madeira ocorreu em 2012-2013, tendo sido diagnosticadas mais de duas mil pessoas infetadas pelo vírus.
No entanto, informa, “tal como acontece noutras doenças virais, a maioria das pessoas (cerca de 50 a 98%) não desenvolve qualquer sintoma quando infetada pela primeira vez. São as chamadas infeções assintomáticas”. E é aqui que reside um dos desafios do estudo. Há pessoas que nem sabem que estiveram infetadas com o vírus, o que acaba por reduzir a amostra para estudo.
Ana Margarida Vigário revela que, das pessoas que manifestaram sintomas durante o surto já foram contactadas cerca de 300, mas nem todas acederam a participar no estudo. Houve, no entanto, outras pessoas que contactaram diretamente a UMa e manifestaram interesse em participar. “Os casos assintomáticos são de mais difícil identificação até porque, pela ausência de sintomas, estas pessoas pensam que não tiveram dengue”, explica a responsável, frisando que tem apelado à participação das pessoas que, à data do surto, entre setembro de 2012 e março de 2013, residiam ou trabalhavam na freguesia de Santa Luzia ou freguesias limítrofes; tenham sido picados por mosquitos; não tenham manifestado sintomas como febre e tenham idade atual inferior a 65 anos. Caso mais pessoas reúnam estes critérios, Ana Margarida Vigário informa que estas podem, se assim o pretenderem, participar neste estudo. O primeiro contacto deverá ser pelo telefone, através dos números 291 705 342 ou 291 705 114.
Lúcia M. Silva