Bruno Ferreira, reputado dirigente socialista e anterior presidente da Junta de Freguesia de São Gonçalo, saiu ontem em defesa de Sérgio Gonçalves, não poupando nas críticas a António Costa, que se referiu ao líder regional como "o gajo da Madeira", instando outros socialistas a mostrar a Lisboa que "politicamente os socialistas madeirenses são heróis".

No epicentro da indignação de Bruno Ferreira está o episódio de passado na reunião nacional do PS, em Lisboa. Então, António Costa teve que que conferir, antes da sua intervenção, ao ouvido de Carlos César, de "o gajo da Madeira é Sérgio Gonçalves, não é?", conforme é perfeitamente audível na transmissão da SIC Notícias, num registo já partilhado até à exaustão nas redes sociais.

Tendo de seguida no palanque, então, agradecido aos socialistas madeirenses, particularmente a Sérgio Gonçalves, já sem dúvida no nome, pela "forma como se bateram, lutaram e não ganharam nas eleições regionais".

Ora, este falha de memória de Costa em relação ao líder regional do PS, com quem esteve, inclusive, presencialmente em várias ações de lançamento da candidatura, e depois também na campanha eleitoral, não caiu bem num certo segmento dos socialistas madeirenses, com Bruno Ferreira a dar conta disso mesmo, na sua página pessoal do Facebook.

Bruno Ferreira começa por lembra que "o Doutor, é preciso não esquecer que o Sérgio Gonçalves é Doutor, Sérgio Gonçalves não merecia o que aqui veio dizer, Álvaro Beleza, na inauguração da Sedes, e não merece a forma como o secretário-geral do PS, António Costa o destratou, hoje".

"Estou completamente solidário com o Presidente Sérgio Gonçalves, e agradeço a coragem de dar a cara, o nome e o corpo pelo PS-M como muito poucos o fizeram, até hoje, em tão pouco tempo de militância mostrou a garra, a tenacidade e a resiliência que nos caracteriza como ilhéus", reforça mais à frente.

Bruno Ferreira exorta ainda os socialistas, que como ele não apreciaram a atitude do secretário geral do partido que "este será um excelente tempo de introspeção e de recordar quem está realmente com a Madeira, se calhar em vez de pensarmos em congressos regionais será tempo de uma moção global ao congresso nacional a expor toda a ignorância que Lisboa tem sobre nós, uma moção que corra o país e que os algarvios, alentejanos, nortenhos, de trás-os-montes, etc, percebam o tão centralista que é este primeiro-ministro".

"Dar a cara pelo PS-M é um ato de coragem, talvez até, de alguma insanidade, como podemos defender pessoas destas, pessoas que colocam o seu interesse à frente de tudo e de todos, pessoas para as quais 2,5% da população do país não conta porque estão agarrados a uma rocha a meio do Atlântico a levar porrada de um regime com 50 anos que asfixia tudo e todos, inclusive com a conivência do governo da república, da própria Presidência da República, do ministério público, etc", diz ainda, sendo que mais à frente, já em jeito de reação a um comentário, Bruno Ferreira. Escreve mesmo que "é verdade que tenho alguns bons amigos na capital, mas politicamente os socialistas madeirenses são heróis".

Mais, "para António Costa, talvez por ter sido presidente da câmara, o país e o partido é Lisboa e a FAUL (Federação da Área Urbana de Lisboa), tudo o resto é paisagem", escreve Bruno Ferreira que lembra que "foram com eleições primárias que António Costa assaltou o Partido Socialista a António José Seguro" e ainda "em 2013, António José Seguro, esteve no Funchal para a tomada de posse do executivo, da CMF, liderado por Paulo Cafofo, se fosse António Costa secretário-geral do partido esta coligação nunca teria existido e a Madeira nunca teria lugar elegível nas listas às eleições europeias".

"Muito triste com estas notícias, mas muito orgulhoso por ter conhecido o Sérgio Gonçalves e o António José Seguro. Nem um nem outro mereciam o que o António Costa - com a ajuda de alguém - lhes fez", conforme remata Bruno Ferreira.

David Spranger