Aliás, os dividendos deste pingue-pongue são uma mão cheia de nada. Faz lembrar a clássica pergunta que tantas disputas estéreis geraram ao longo dos tempos: o que é que surgiu primeiro, a galinha ou ovo?
Ninguém se lembra de pensar em acrescentar soluções. De premiar a produtividade, de encontrar parcerias que facilitem a vida de quem trabalha, de fiscalizar os beneficiários do RSI, de valorizar, essencialmente, quem se dá ao trabalho de trabalhar, sem subterfúgios, descontando o que tem de descontar para alimentar a estrutura social montada.
Ainda recentemente o Jornal andou pelo norte da Madeira, onde é notório que a ausência de trabalhadores prejudica tudo e todos. Os empresários não têm mãos a medir para satisfazer a procura. Os trabalhadores julgam-se explorados e encontram remedeios nos rendimentos sociais e outros carunchos.
Vamos a ver e ainda haverá quem recorde com saudosismo o período em que as queixas assentavam na falta de clientes, na ausência de turistas, nos proveitos que não cobriam os custos… Hoje, as agruras são outras, é que faltam mãos para acudir a tanta clientela. Chamemos-lhe evolução com resquícios de queixume. Porque há sempre motivos para nos queixarmos, embora, convenhamos, quando a faturação aumenta, as vantagens também poderiam ser repartidas pelos trabalhadores, pois também são chamados a dar mais de si em prol da empresa. Parece simples. E a pandemia - que penalizou muito os empreendedores - não pode ser desculpa eterna.
Muitos motivos de queixa têm igualmente os assalariados que outrora faziam parte de uma classe média que enfrentava o mês com algum conforto financeiro. Esse tempo já passou. Para esses, as consequências do congelamento salarial e da inflação têm sido penosas. Um dado que nem é merecedor de discussão. Pelo contrário, o crescimento do número de pessoas em dificuldades passa com aparente normalidade.
A não ser que surja um altar, um palco ou edifício, como queiram designar, que exponha a imoralidade da governação do País. Não está em causa o projeto da Jornada Mundial da Juventude, nem tão-pouco a pertinência de sabermos receber as dezenas de milhares de visitantes que virão a reboque do Papa Francisco. Importaria somente adequarmos os investimentos ao momento que atravessamos, aflitivo para muitas famílias portuguesas. Dizer que Lisboa passaria vergonha se não construísse um edifício de 4 milhões de euros é abusivo. Porque se a igreja vive de esmolas, os fiéis também deviam dispensar luxos.