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Artigo de Opinião

Comunicação - Assuntos da UE

30/11/2022 08:00

Em conversa com uma conhecida que é marroquina crescida em Bruxelas, percebi o quão as nossas realidades são diferentes apesar de ela ser mais ‘belga’ do que eu. Nessa conversa, disse-lhe que o meu primeiro nome é de origem árabe, mas que opto por usar Patrícia simplesmente porque gosto. Ela respondeu-me: ‘É melhor continuares a usar Patrícia. Aqui um nome árabe vem com conotações negativas.’ Fiquei intrigada. Em troca de ideias com um amigo belga sobre este episódio, ele diz-me: ‘Quando não querem adaptar-se à nossa sociedade, é difícil mudar a conotação. Os nossos valores são demasiado opostos.’

Na teoria, a ideia de multiculturalismo é óptima: é dar importância igual a todas as culturas numa sociedade, em prol da tolerância, coesão e compreensão. Mas em termos práticos, não é bem o caso.

Muitas vezes, as minorias não se sentem acolhidas pelo país em que estão. Contudo, também há casos em que estas não tentam integrar-se. Em vários países europeus, comunidades culturalmente díspares vivem lado a lado, mas com um mínimo de interacção entre grupos.

Vamos tomar como exemplo o que aconteceu depois do Bruxelas-Marrocos para o Campeonato do Mundo esta semana. Cidadãos marroquinos, ou que tenham nascido na Bélgica com pelo menos um pai ou mãe marroquina, representam a maior população imigrante não-europeia na Bélgica. Quando Marrocos ganhou, as ruas da capital belga encheram-se de apoiantes a celebrar. Não demorou muito até que as imagens de destruição de carros e bens começassem a circular nas redes sociais. Belgas apontam que os marroquinos são destruidores, foras-de-lei; os marroquinos dizem que responderam a provocações de adeptos belgas. Não sei quem tem razão - a questão aqui é o círculo vicioso que se gera que vai além deste incidente em particular. De um lado a frustração por não sentirem-se belgas o suficiente, como se tivessem uma crise de nacionalidade; do outro a depreciação porque o grupo não respeita ou tenta integrar-se no país que os acolheu.

Ora, falhou o multiculturalismo? Não necessariamente. O que falha é a falta de políticas governamentais efectivas de integração de imigrantes e também, por vezes, a vontade dos mesmos em aventurarem-se para se integrarem no país acolhedor. Serão as nossas diferenças religiosas e culturais assim tão grandes? Só através de uma verdadeira integração e educação é que podemos ter uma sociedade respeitadora, em que diferentes culturas de facto co-habitem pacificamente.

Há caminhos que podem ser pavimentados para ajudar imigrantes neste processo: testes de naturalização; aprender a língua nativa antes da mudança com ajuda das embaixadas; criar posições de integração ou grupos de trabalho; acesso à informação/educação; lugares para encontros entre locais e imigrantes; bairros em que as duas comunidades se misturem; etc.

Igualmente, tem de haver mais flexibilidade das comunidades imigrantes para que não se fechem completamente na bolha da sua comunidade, respeitando também os valores e leis dos países em que optaram viver. Só com respeito mútuo e vontade é que o multiculturalismo poderá ser verdadeiramente um sucesso.

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