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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

31/07/2022 08:00

Ser cristão nesta histórica pátria, após ter chegado o Islão no século VII, não é nada fácil, embora o número da população cristã seja semelhante ao de Portugal. Durante estes séculos a situação foi diversa, dependeu das relações com os diversos governos e da forma como foram recebidos pela população muçulmana. Os cristãos coptos são excluídos da vida política, são considerados cidadãos de segunda classe.

Após o governo de M. Morsi que terminou com um golpe de Estado organizado pelo exército em 1013, o povo egípcio optou por uma organização de real integração dos grupos minoritários, como liberdade e direitos humanos. A situação tornou-se impossível para os coptos, nos confrontos que resultaram entre os rebeldes e os partidários de Morsi, cerca de 40 igrejas coptas foram invadidas e saqueadas em 2013, com o golpe de Estado e a tomada de posse do Governo Al Sisi, o governo tornou-se mais amigável para com os coptos, mas os ataques continuaram contra os cristãos. O Estado estabeleceu novas bases para a cidadania, dizendo que todos têm os mesmos direitos e recebem o mesmo tratamento que a religião a que pertencem, Deus e a pátria acolhe a todos. O Estado contribuiu para a reconstrução de igrejas queimadas pelos terroristas e promulgou regulamentos para a construção e restauração de igrejas em 2016. Até agora, o Governo autorizou a legalização do Estatuto de 1800, sobre igrejas e edifícios adjacentes. A Constituição de 2014, garante liberdade de culto, o que concede alguma proteção às minorias religiosas no Egito, embora considerando o Islamismo a religião de Estado.

No domingo de Ramos de 2017, a comunidade copta sofreu um ataque que causou 53 mortes e 204 feridos. Toda a situação mostra que ainda será necessário um longo período para viver numa situação de igualdade. Apesar das políticas dos governos, a sociedade muçulmana está muito afastada do povo copta. A zona cristã dos coptas no Cairo, está fortemente protegida pelas forças militares e policiais, cercada com muros, encerrados nas suas ruas.

Diversas vezes visitei o Cairo com grupos de peregrinos e turistas, tive liberdade de movimentos, mas fomos obrigados a entrar numa mesquita para ouvirmos uma longa dissertação sobre a fé muçulmana, mas sem nunca ouvir uma palavra sobre os cristãos coptas. Ao visitar uma igreja fora do centro cristão, um sacerdote, muito culto, falou-nos da vida da igreja local com entusiasmo, sem acentuar muito as dificuldades com os governantes.

Quando pertencia a um grupo francês "Das duas Margens do Mediterrâneo" para diálogo com muçulmanos cultos, alguns professores da Universidade Al-Azhar do Cairo, sentiram-se não protegidos e emigraram para Paris, onde a Universidade muçulmana era muito livre e se podia discutir uma atualização do Islão para o nosso tempo. Os países muçulmanos sobre a liberdade religiosa são muito diversos e alguns até sentem que as novas gerações tendem a imitar os colegas europeus, não respeitando o Ramadão, como me narrou um guia muito culto em Marrocos.

É certo que um cristão não pode entrar em Meca sem correr perigo de vida, mas com a minha experiência, longa e em diversos países orientais, nada tenho a lamentar da hospitalidade que os islamitas receberam do nosso pai comum Abraão, quando recebeu os três visitantes que vieram anunciar a Sara, sua esposa, que no próximo ano teria um filho. (Gen.18, 1 e ss.). No texto que escrevi a 10 de Julho "Mediterrâneo fronteira de Paz" referia o entusiamo que reinava nos participantes do encontro, tanto bispos como presidentes das Câmaras desses países, além do encontro do Papa Francisco com o Iman da Universidade egípcia al-Azhar, a 4 de fevereiro de 2019, com o reconhecimento da fraternidade humana e a convivência comum e a cidadania, em que todos somos irmãos e, portanto, cidadãos com iguais direitos, à sombra dos quais todos gozam da justiça, A cidadania comum é o critério fundamental para viver em comum.

A visão bíblica do "Lago de Tiberíades, ou lago de Jesus" do carismático La Pira de Florença, é ainda uma visão toda a construir. Não podemos desanimar nem desistir, a Igreja é vocacionada a construir pontes ente as três fés abraâmicas, Judeus, cristãos e muçulmanos, é um serviço à fraternidade universal.

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