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Artigo de Opinião

Psiquiatra

18/05/2022 08:01

Ao longo de gerações, de uma forma ou de outra, a mensagem foi de diminuir a sensibilidade. "Os homens não choram" para se tornarem caçadores ou trabalhadores implacáveis e "as mulheres têm de aceitar as necessidades dos homens", tornando-as vítimas dessa implacabilidade. Infelizmente, esta mentalidade que pode ter sido útil para salvar a espécie da extinção no tempo das cavernas, devia ter ficado na caverna.

A sensibilidade foi e é sinónimo de fraqueza na maior parte das atividades humanas, com grande exceção nas artes. Na saúde e em tantas outras áreas, a sensibilidade é fundamental, mas mais uma vez, os profissionais que a tendem a demostrar em maior percentagem, acabam por ser os tapetes dos outros.

Quer pela fraqueza que a sensibilidade traz, quer pelo sofrimento que ela permite sentir, um grande grupo de pessoas consome substâncias em excesso para a atenuar. Desde as mais simples como o chocolate, passando pelo tabaco, álcool e todas as outras drogas, procuramos muitas vezes diferentes pensos para acalmar o nosso estado interno. Quanto mais nefasto for o nosso refúgio, mais afastados ficamos da nossa sensibilidade, mas maiores serão as consequências para a nossa vida.

Pela sensibilidade, sofremos. Sentimos o sofrimento dos outros, sentimos o nosso sofrimento e a não ser que tenhamos alguma estratégia, afundamo-nos no sofrimento geral. No entanto, é a sensibilidade que nos permite sentir as alegrias da vida, a alegria dos outros e, em última instância, de sentir o profundo prazer pela vida em si. Não é preciso grande sensibilidade para sentir prazer, mas atinge-se sensações de prazer mais elevadas quanto maior for a sensibilidade.

A sensibilidade de cada um tem de ser respeitada e diria mesmo aumentada. Só podemos "salvar o mundo" das guerras, das alterações climáticas, se cultivarmos a sensibilidade humana. Pela sensibilidade cultivamos a necessidade da harmonia, do respeito pelos outros e a proteção de todo o planeta.

A sensibilidade para poder ser uma vantagem, mas tem de ser compreendida. É na minha opinião uma grande vantagem e um superpoder, mas tem de ser cuidada e protegida. Quando temos uma grande sensibilidade, temos de cuidar mais dela e de restabelecermos as nossas emoções do que os outros. Quer seja por cuidar de plantas ou animais, quer seja pela meditação e espiritualidade, quer seja pelo desporto harmonioso, pela alimentação, pelos convívios saudáveis, por outras atividades relaxantes e positivas, pela música, pintura, escultura, qualquer atividade que liberte o nosso interior e que permita que saremos as nossas emoções e fragilidades.

A sensibilidade desprotegida pode causar traumas e sofrimentos intensos, que sem uma orientação positiva, pode culminar em pessoas destruídas ou em novos agressores.

Acredito que quanto mais sensíveis formos em harmonia, se cuidarmos da nossa sensibilidade e orientarmos a nossa vida para cuidarmos de nós e dos outros, colheremos os melhores frutos da vida. Em vez de nos isolarmos em pequenas ilhas, devemos abrir os braços e juntarmo-nos a outras pessoas sensíveis e positivas. Aumentamos a nossa sensibilidade, partilhamos momentos de harmonia e bem-estar, e descobrimos a simples matemática das relações humanas, uma harmonia em grupo é maior do que a soma da harmonia individual. Pelo contrário, se cultivarmos emoções negativas, pessimismo, bilhardice,... também a desarmonia do grupo supera a desarmonia que cada um sente individualmente.

Cultivar a sensibilidade positiva e em harmonia com o mundo natural é sem dúvida um caminho de profundo crescimento e harmonia, evitando a doença e facilitando a saúde mental consciente.

OPINIÃO EM DESTAQUE
Coordenadora do Centro de Estudos de Bioética – Pólo Madeira
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Há uma dor estranha, quase impossível de explicar, que nasce quando alguém que amamos continua aqui... mas, aos poucos, deixa de estar. Não há funerais,...

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