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Artigo de Opinião

Bispo Emérito do Funchal

21/11/2021 08:00

Numa peregrinação realizada pela diocese do Funchal para agradecer a Deus a próxima beatificação do servo de Deus Carlos de Áustria, ao rezarmos na Hungria na igreja de Matheus onde o Imperador Carlos tinha sido coroado Rei da Hungria com a coroa de Santo Estevão, dizia-me uma senhora húngara: "A Hungria começou com um rei santo e termina com outro também santo". Assim era felizmente, mas com a vitória ou, melhor, com a derrota de toda a Europa quando o imperador Carlos e esposa, já proibido de residir na Áustria, vivia na Suíça, o Papa Bento XV pede ao imperador para exercer o seu poder na Hungria, teme a expansão do comunismo soviético.

O Imperador Carlos com a esposa, filhos e alguns nobres, cerca de oitenta pessoas, viviam no exílio, o Natal de 1918 foi triste, os presentes às crianças foram simbólicos. As duas tentativas para entrar na Hungria e tomar o poder foram frustradas pela maçonaria. Carlos tem repugnância em derramar mais sangue entre os húngaros. A Conferência dos Embaixadores decide exilar o imperador para mais longe. A 3 de outubro de 1921 Carlos e Zita, que tinham deixado os filhos na Suíça, são levados para o

Danúbio e embarcam num navio de guerra inglês. O Papa Bento XV envia, através do Núncio, a sua bênção. O imperador pede ao Núncio para interceder junto das autoridades para que ninguém seja condenado à morte.

Na foz do Danúbio mudam para o cruzador britânico Cardiff, Carlos tira o uniforme militar que não usou mais, o oficial de bordo ficou impressionado com a piedade, dignidade, fé e força espiritual dos exilados, numa situação tão dolorosa e dramática.

O comandante não sabe o destino desta família, será Malta, Canárias, Santa Helena, como Napoleão? Carlos e Zita pensam nos filhos, de Londres chega a notícia por telegrama-Funchal ilha da Madeira. A viagem entre a Europa e o Funchal foi tormentosa, o Atlântico estava muito agitado mas os dois exilados estavam mais aflitos, pela falta dos filhos, de roupa, de dinheiro, de casa, apesar disso Deus concedia-lhes uma grande paz interior. A 19 de novembro o Cardiff entra no porto do Funchal. Do barco, Carlos olha para os montes, vê no alto uma igrejinha com duas torres e diz à esposa: "Ela recorda-me as nossas igrejinhas do Tirol". Sim, após quatro meses, será a sua casa de repouso em Deus, sob o olhar materno e filial de Nossa Senhora do Monte, na capela do Imaculado Coração de Maria.

O Papa Bento XV tinha telefonado ao Bispo António Pereira Ribeiro para o atender da melhor forma e ajuda-lo nalguma necessidade do corpo ou do espírito. O cônsul britânico sobe ao barco para receber os soberanos. Uma chuva tropical abateu-se sobre a cidade, sinal de bênção e não de catástrofe, acompanham a família imperial o conde e a condessa Hunyady e dois dos seus domésticos. O Bispo do Funchal enviou o Cónego Homem de Gouveia, que falava alemão, para o saudar, receber e perguntar-lhe se precisava de alguma coisa. Apenas uma coisa pede o santo imperador ao Bispo: "Permissão para em casa ter uma capelinha com o Santíssimo Sacramento."

Após uma longa viagem, uma vergonhosa injustiça por um homem de Paz, despojado de todos os bens terrenos do grande império, como Job após a perda de todos bens, o imperador entra numa terra que, na sua Catedral já tinha escrito na pedra de entrada a quem pertencia- ao SANTÍSSIMO SACRAMENTO. O Imperador, já conta com a sua maior riqueza: "Àquele que nos ama e com o seu sangue nos livrou dos nossos pecados e fez de nós reis e sacerdotes, para Deus, Seu Pai: a Ele, glória e poder pelos séculos dos séculos. Ámen. (Apocalipse 1,5-6).

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