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Artigo de Opinião

15/10/2021 08:01

É hoje impossível recuperar o que queriam aqueles manifestantes, como na altura também era imperscrutável qual a solução que postulavam. Percebia-se é que para aqueles cidadãos, no pleno direito de manifestação, qualquer coisa seria melhor que a profunda requalificação entretanto concretizada na frente mar do centro do Funchal. Olhando para trás é um pouco cruel confrontar os promotores de tal ato de cidadania com a sua capacidade de projeção do futuro, mas a vida é assim mesmo, implica encontrarmos paz com as nossas decisões. Como é óbvio, poucos assumirão hoje que "aquilo que antes havia era melhor do que aquilo que ficou". É quase sempre assim. As grandes intervenções de reestruturação raramente são pacíficas. Como vivemos numa era de extremo conservadorismo social, curiosamente liderado pelas franjas que se dizem mais revolucionárias e mais liberais, tudo é passível de hiperbolizada polémica, contestação, na maior parte das vezes com argumentos que ofendem a ciência e/ou a honestidade intelectual.

Essa intervenção que se estendeu desde a atual foz comum das ribeiras de João Gomes e Santa Luzia, até ao final da Avenida Sá Carneiro foi extraordinária, mas não perfeita. O maior exemplo será a inoperacionalidade do fundamental cais 8, cujo projeto de extensão do molhe da Pontinha pretende resolver.

Mas talvez o maior pecado seja o de não contemplar a transformação da margem norte da Avenida do Mar.

Como escrevi recentemente noutro artigo, é imperioso convencer a República a devolver à cidade os magníficos edifícios basálticos da Alfândega, capitania e GNR, concessionando-os para atividades turísticas e culturais, ajudando a cidade a voltar-se para o mar! A profunda renovação da Marina do Funchal promete ajudar a persuadir os funchalenses a terem outro convívio com o oceano que nos abraça na parte central da nossa cidade. Com a nova realidade autárquica, existe também a espectativa de uma maior celeridade nos processos de licenciamento e nos instrumentos de gestão urbanística, resgatando a cidade do medievalismo que se encontra no domínio do investimento (também) privado.

Com isto, é interessante refletir no novo paradigma político que vivemos. Existe um potencial de estabilidade política no horizonte temporal como já não existia há seguramente mais de uma década. O governo regional e o seu líder registam níveis de aceitação como nunca, desde 2015, existe uma coligação que já conseguiu acertar as suas naturais diferenças, e uma câmara que replica agora essa coligação, depois de uma vitória estrondosa em urna, com o "plus" de ser liderada pelo número 2 do maior partido da Região. Não deve ser confundido com menor capacidade da oposição ou porventura maior desleixo. Pelo contrário. O que digo é que não vale muito a pena ficar agarrado ao passado dos últimos 8 anos. Para isso já basta a decisão do poder municipal em fim de vida, de não renunciar ao cargo como fez e bem Medina em Lisboa, perspetivando-se reuniões de câmara com apelos ao saudosismo atávico por parte da agora oposição.

Não é isso que se espera de quem tem agora o destino do Funchal nas mãos. Esta é a hora de tomar as grandes decisões, portanto. Este é o momento em que as contestações mais ou menos histriónicas não beliscam a estabilidade política e que não há calendário eleitoral para gerir.

O Funchal precisa de se cumprir.

As grandes proclamações para o futuro parecem muitas vezes anedóticas, e alvo de sátira por parte dos bota-abaixo profissionais. Têm sempre razão porque nada fazem. Assim, a Madeira e o Funchal têm todas as condições para ser um polo de atratividade para um turismo, ocasional ou residencial, de luxo. E o novo regime dos vistos Gold é apenas uma das ferramentas. Mais do que a Singapura do Atlântico temos condições para sermos o Mónaco o a Macau do Atlântico. Tenhamos coragem política, e lembremos o ridículo que foi, aos olhos de hoje, aquele cordão humano de há 10 anos.

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