É algo que me acompanha há algum tempo. Nunca partilhei. Mas hoje, e na ausência de melhor tema, decidi abrir-me convosco. Se me permitem, cá vai... Não gosto de barulho. Pronto. Está dito. Já me sinto mais leve.

A sério. Juro que quando bato a porta de casa, comigo do lado de dentro, detesto ouvir um pio. Sim, sou diferente do meu pai… Ele está a marimbar-se e é para o lado que dorme melhor. Já eu, perco o sono! Tanto que, ainda eu estudava (ou fazia que estudava), e era raro o dia que não lhe ligava a queixar-me dos vizinhos de cima.

Eram 3 festeiros de Chaves. Cada vez que iam a casa traziam chouriças, presuntos e folares… E depois é que eram elas! Ficavam até às tantas em amena cavaqueira. Só terminavam quando não houvesse mais nada na mesa. Nessa altura eu tentei de tudo. Ora apanhava-os fora e colocava-lhes cola na fechadura. Ora na ressaca de uma noite mal dormida a seguir a uma "feira dos enchidos", cravava-lhes com um palito na campainha que os obrigava a descer para parar com o badalo. Eu sei lá mais o quê!

Um dia, depois de perder a cabeça e não ter mais nada a desgraçar, enchi-me de coragem e fui acabar com a festa. De chinelos de quarto, pijama e roupão, subi ao 4.º andar e dei dois socos na porta. Fez-se silêncio. A única coisa que se percebia era que estava alguém do outro lado a espreitar pelo "olhinho". Não demorou muito e deitaram a mão às chaves para me abrirem a porta. Quem fez as honras da casa foi o maior de todos. Um que nem vivia lá. Nunca o tinha visto, mas não foi isso que o impediu de me perguntar o que queria àquela hora! "Nada de especial", disse eu, ao mesmo tempo que cerrava os dentes, franzia o sobrolho e desatava o cinto do robe. "Apenas que se ponham a andar", acrescentei.

Estou até hoje para perceber o que lhes deu… Pegaram nas suas coisinhas e, em romaria, puseram-se porta fora. Eram só 17! Pensei para mim, "desta safaste-te, mas para a próxima levas na boca". Curiosamente a coisa acalmou. Talvez para isso tenha contribuído o facto de um deles ter desistido do curso e outro ter-se mudado…

Já cá, certo dia, tive que incomodar a Polícia Marítima. Eu sei que eles não gostam de fazer muito. Que, se puderem, passam a ocorrência a outros. Que se a denúncia for de assédio na praia, não é com eles… Mas também sei que lá desta vez foram eficientes! Foi assim: era dia de semana. Já passava, e muito, da meia noite. Ouvia-se música como se das duas da tarde de um domingo se tratasse… Fui à varanda e não era capaz de perceber a fonte de tanta animação. Meti-me então no carro e fui no rasto do som. Arrisquei-me, eu sei. Há tantos que saem para comprar cigarros e não voltam… Dei comigo em pleno cais a ligar para quem me mandaram. O "Mein Shiff" estava atracado no porto e a discoteca parecia ao rubro. É assim, eu sei que estão de férias. Que se querem divertir. Que pagam para isso… Só que é simples! Zarpem em direção a alto mar e, por mim, até podem fazer 48h a bailar.

Mas pronto, esta situação foi pontual. Sempre era melhor que os cães que o meu vizinho tem e que gostam de cumprimentar toda a alma que passa com uma sonora ladrada. Não descansei enquanto não consegui o contacto e liguei. Foi uma conversa cordeal! Disse-me que gosta tanto dos cães como se fossem filhos. Respondi que entendia, mas que não tinha por hábito colocá-los na rua cada vez que choravam. Sugeri que experimentasse passar a viver com eles dentro de casa… Resultou! Se continua a latir, eu não oiço.

O que ouvi há dias foi a XXI Regata Internacional Canárias - Madeira. Com o encerramento decretado para a 1 e o recolher para as 2 da madrugada, os marinheiros não se fizeram rogados e estavam a curtir a onda… Só que não! Se quisessem mais festa, em vez de acabarem no Funchal, fossem ver quem chegava primeiro às Desertas. Poupem-me. Já parece que chegámos à Pena!

Por falar em pena, coitado do Ronaldo. Está com o mesmo problema que eu. Quer descansar e não pode. Só que no caso dele é pior… 7 milhões de euros depois, vai ter que mudar de casa! E tudo por causa de umas cabras (de 4 patas) que fazem muito barulho pela manhã. Provavelmente muitos dirão que é um exagero nosso. Que devíamos ser mais tolerantes. Mas antes da critica gratuita ponham-se, por favor, no lugar dele… Iam gostar de acordar com um Mayyyyyyyyyyyy(orga) ou um Meeeeeeeeeeee(ssi) todo o santo dia? Iam? Não me parece.

Pedro Nunes escreve
ao domingo, todas as semanas