O momento contou com a presença do Presidente da República portuguesa.
Marcelo Rebelo de Sousa, aliás como todos os outros Presidentes da República, afirmou ser um autonomista.
Mais. Disse "eu sou autonomista, pois eu votei a autonomia. Já votei, em 75, 76".
Não se esperava outra coisa. Alguém é capaz de encontrar uma frase de Ramalho Eanes, de Mário Soares, de Cavaco Silva ou de Marcelo Rebelo de Sousa, em que algum deles, alguma vez diga que é contra a Autonomia? Que a ela se opõe?
Claro que não encontrará. Por que tal não existe. É politicamente correto dizer que se é autonomista, ainda por cima quando se diz isso na Madeira.
É politicamente correto os políticos do Portugal centralista, fechado em Lisboa, virado de costas para o resto do retângulo e completamente míopes quanto à realidade das "ilhas", dizerem em dias de festa coisas como "a autonomia é o jarrão mais vistoso do frontão do 25 de Abril", ou "a autonomia é das grandes conquistas de Abril".
Estas frases ficam sempre bem em qualquer discurso de circunstância, para agradar aos indígenas e amolecer corações.
Porém, depois de ditas, tudo continua na mesma. Porque os Presidentes da República, os chefes de governos lisboetas, os ministros, todos se ficam por estas palavras de embevecer o ouvinte mais distraído.
Qual foi o primeiro-ministro que nos últimos 40 anos, dedicou umas milésimas do seu tempo de mandato a compreender o que é a realidade das ilhas, das Regiões Autónomas, que existem na Constituição mas que a esmagadora maioria dos seus ministro nem sabe como funciona, vê como uma direção geral e nem é capaz de balbuciar três coisas sobre essa realidade específica?
Qual foi o Presidente da República que desenvolveu, no seu mandato, uma ação concreta, palpável, identificável pelos cidadãos, para que Portugal perceba o que são as Autonomias e para que as suas realidades muito particulares, sejam dadas a conhecer ao país?
Qual foi o Presidente da República que dedicou alguns pozinhos do seu tempo a entender as questões fundamentais da Autonomia? Que gastou alguns minutos a procurar dar a conhecer ao país essa outra realidade - diversa, descontinuada territorialmente, que tem uma organização política e administrativa muito diferente da demais organização do Portugal retangular?
Qual foi o Presidente da República que, tirando situações de catástrofe e tragédia natural ou humanitária, dedicou algo do seu mandato à problemática dos que nestas paragens vivem? Tentou colocar-se nos sapatos destes e entender os problemas a partir daí?
Não tenhamos ilusões.
Continuam a ser um Portugal, que tem o retângulo e depois umas ilhas lá jogadas no meio do mar. Que muitos atores políticos ainda confundem com uma autarquia, que não entendem nada do seu modo de funcionamento, da sua organização e da sua capacidade legislativa e dos seus graus de liberdade em termos governativos.
Por isso é tão incómodo quando se levantam os problemas objetivos da mobilidade, da descontinuidade, dos tratamentos negativamente discriminatórios por parte de um Estado que é desigual e parcial.
Assobiar para o lado e seguir em frente é sempre a fórmula mais fácil para estes políticos, cultores do centralismo.
Resistir a esta indiferença, falar claro e não se calar, continua a ser a forma mais digna de honrar a Autonomia que temos. Conquistada, palmo a palmo por gerações de inconformados.