Senão vejamos:

- Hoje, se temos uma média diária de 20 casos positivos, é porque a pandemia está a descontrolar-se;

- Se o corredor do Reino Unido reabriu… andam a facilitar no controlo da pandemia. A economia que se aguente;

- Agora, que queremos ver os jogos de futebol, quem está vacinado não quer ser testado, apesar de poder assumir-se como um transmissor da doença, mas isso é problema dos outros;

- As empresas e trabalhadores precisam de apoios, mas é uma vergonha quando não chegam e ainda mais vergonhoso quando são ‘despachados’ porque quem os entrega, dizem, anda a comprar votos;

- Os patrões queixam-se de que ninguém quer trabalhar, os trabalhadores criticam os baixos salários e preferem ficar em casa a beneficiar de ajudas públicas;

- Quem avança para a criação de um negócio ou compra em tempo de pandemia já não é empreendedor, fá-lo porque sabe mais do que os outros.

Em suma, o "vai ficar tudo bem" deu lugar ao "vai ficar pior". Discurso que se acentua, ainda mais, porque estamos já em modo de campanha autárquica. Quem é poder acha que a mudança será sempre para pior e quem quer ser poder garante que pior do que está não fica. No meio, bem, no meio não há nada. Nem vivalma. O elogio ao adversário seria um ‘ai Jesus’, uma espécie de atestado de burrice instantâneo, pelo que o esperto é quem se mostra a favor ou contra. Não há outra opção, isto claro, se não quiserem ser classificados de aves raras sem jeito para a politiquice.

Há sempre quem fuja a estes pleonasmos. Quem procure outra forma de estar, que não se resguarda apenas em desculpas e que esteja mais preocupado em fazer acontecer. Mas mesmo esses não estão imunes às críticas porque as há para todos os gostos e feitios. Que o diga Rúben Micael, criticado recentemente por não permitir que os funcionários bebam cerveja e vinho na pausa para o almoço. Quem não gosta de conversar com o simpático funcionário que transpira um doce perfume a álcool? Mau feitio…

Nem tudo está bem, é verdade, há muito para melhorar. Mas a lógica dos discursos vazios repletos de lugares comuns não devia vingar nos dias que correm. O povo, que tanto tempo teve para refletir nos confinamentos, que fique em casa, mais uns minutos, e avalie bem o que cada um tem para oferecer. Não se assuste se, em muitos casos, pouco ou nada encontrar. Mas não invente desculpas e não deixe de escolher.