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Artigo de Opinião

CULTURAS GLOBAIS E CRIATIVIDADE

19/07/2021 08:00

Rodney Harrison, em dois dos seus livros acerca de património, Heritage Critical Approaches 2013 e Understanding the Politics of Heritage 2010, tem uma abordagem algo polémica acerca do excesso de património, nomeadamente em museus, e da necessidade de um conceito predador em relação a algum desse património. Ora, traduzindo por miúdos, "se ver livre de cacos", deitar fora, limpar, reciclar, queimar, e assim que tal. A sua abordagem e interessante metodologia, consiste em sinalizar o que é já obsoleto e sem grande relevância para se continuar a preservar. Claro que é um conceito polémico, subjectivo e susceptível de variadíssimas leituras. Existe por aí os acumuladores e os minimalistas. Quando li estes dois livros, pensei de imediato que este conceito poderia ser adaptado a infraestruturas e "cacos" modernos que careceriam de ser removidos e extintos.

Transportando para a Ilha da Madeira e uma vez que é urgente que a natureza ganhe espaço, lembrei-me logo de vários locais e infraestruturas que ganhariam com este conceito, aliado, pois claro, a outro conceito pouco falado e quanto a mim a carecer de ser implementado por aqui que se chama de Renaturalização. Alguns recantos da Ilha teriam muito a ganhar com este método, à imagem de outros destinos que viram o excesso de modernidade e urbanização trazer não a glória esperada e sim contextos e circunstâncias desagradáveis, desde a poluição, insustentabilidade e consequente desvalorização e perda de relevância do destino. Sem querer bater no ceguinho ou escarafunchar cérebros com manias megalómanas e desproporcionais à dimensão e características da nossa querida Ilha, diria que existem por aí uns bons cacos para "se ver livre". Hoje, só a título de exemplo, refiro a badalada Marina do Lugar de Baixo. Quanto mais tempo terão os Madeirenses e visitantes ter de passar por ali e, em lugar de ver o saudoso Atlântico, terão de ver folhas de metal a enferrujar e a cair ao vento? Já toda a gente sabe que foi um erro, já toda a gente percebeu que a Natureza manda mais que a soberba humana. Ganharia ou não a Madeira e a Natureza com este conceito de "se ver livre" daquele caco, renaturalizando aquele espaço e deixando a natureza em paz? Há muitos outros lugares que ganhariam futuro e sustentabilidade com esta estratégia, mas não tenho espaço aqui para dissertações. Pensem nisso se tiverem pachorra.

Outros autores na linha de Harrison, defendem que a Renaturalização é uma oportunidade de ouro para a reinvenção de alguns sectores como o da construção que, em lugar de tudo construir de raiz, terá de virar-se mais para a remoção de obsoletas infraestruturas e conceitos mais equilibrados. Um pouco como as oficinas automóveis que terão de reinventar-se e adaptar-se à onda dos carros eléctricos em lugar da vaga duradoura dos combustíveis fósseis. Estes autores e outros não duvidam que o futuro do mundo terá de passar por uma relação cada vez mais equilibrada com a natureza. Por aqui, a minha sugestão é que comecemos a nos ver livre de alguns cacos. Arrumar e limpar a nossa Ilha pelo seu futuro é fazer o trabalho de casa.

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